Uma batalha contra o desperdício das grifes de luxo está sendo travada na França. Combatê-lo é decisão sensata, uma vez que a produção fashion tem significativo impacto ambiental no planeta: é responsável por aproximadamente 8% das emissões de gases de efeito estufa no planeta. Ganhá-la não é, no entanto, tarefa fácil, porque esse setor movimenta bilhões de euros anualmente e é o segundo mais lucrativo do país. Influente, essa indústria produz objetos desejados em todo o mundo e modificá-la, portanto, significa incomodar muita gente, e de peso. Apesar das dificuldades, um nome se destaca nessa guerra: Brune Poirson, de 37 anos. Oficialmente chefe de uma Secretaria de Estado dentro do Ministério da Ecologia, a francesa já é chamada de “ministra da moda”, não apenas pelo bom gosto ao se vestir, mas principalmente porque resolveu enfrentar esse setor gigante.

Desde que assumiu o cargo, há três anos, Brune vem elaborando medidas para isso, como o texto da “lei de desperdício zero”, que visa implantar uma economia circular. A ideia é proibir que produtos não vendidos sejam incinerados, como ocorre hoje no país. Os números são exorbitantes: anualmente as marcas destroem 650 milhões de euros em artigos de luxo que sobram nos estoques, prática usada para evitar que eles se desvalorizem e assim garantir sua exclusividade, principal característica que lhes confere valor alto de venda. Mas a proposta da secretária vai além: prevê eliminar a utilização de plásticos descartáveis depois de 2021 e microplásticos em cosméticos, e obrigar que máquinas de lavar industriais usem filtros.

Adesão involuntária

Apesar da expectativa pela aprovação da nova lei, a “ministra da moda” coleciona derrotas, como o “Pacto da Moda”, que foi assinado por 56 empresas, mas não gerou efeitos práticos. Primeiro, porque não teve adesão da gigante LVMH, maior grupo de grifes do mundo, que detém as consagradas Louis Vuitton, Fendi e tantas outras. Segundo, porque ele foi apenas uma declaração de intenção, não possuía força vinculante.

Se a nova legislação for aprovada pelo Senado e assinada pelo presidente Emmanuel Macron – o que deve acontecer em breve –, será iniciada oficialmente uma revolução no mundo da moda. Detentora do maior mercado de luxo do planeta, a França deve inspirar outras nações a se comprometerem com a diminuição de seu impacto no planeta. “Talvez em um primeiro momento a lei incomode as empresas que destroem os produtos, mas depois elas serão mais cuidadosas e profissionais com as sobras da produção”, diz Amnon Armoni, professor de marketing e mercado de luxo da Faap-SP. “É melhor faltar que sobrar. Mais escassez de produtos pode até ser positivo para uma marca de luxo e, caso haja excesso, elas devem ser mais criativas, reposicionarem ou modificarem o produto”, diz ele.