Uma ilha foi construída em meio ao deserto árabe para abrigar o Louvre de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos. Projetado pelo premiado arquiteto Jean Nouvel e construído a um custo equivalente a R$ 4 bilhões, a filial do famoso museu francês levou dez anos para ficar pronta e foi inaugurada no sábado 11. “É o primeiro museu universal do Oriente Médio”, vangloriou-se o diretor Manuel Rabaté. A tentativa é criar uma conexão com o Ocidente por meio das obras dispostas de maneira cronólogica para contar a história da evolução da arte. São mais de 600 peças. Entre elas estão pinturas de Leonardo da Vinci, Claude Monet, Henri Matisse e Vincent van Gogh, que foram trazidas por aviões cargueiros de museus franceses e de outras partes do mundo. O museu em si é luxuoso, um conjunto de 55 edifícios independentes, rodeados de água cristalina e cobertos por cúpulas dispostas de tal maneira que permitem a entrada de feixes de luz, imitando um céu estrelado.

“Mercantilização”

O projeto é controverso. Foi alvo de denúncias de trabalho análogo à escravidão. Em 2015, a ONG Human Rights Watch divulgou um relatório afirmando que imigrantes eram explorados e ameaçados de prisão ou deportação caso reclamassem das condições em que trabalhavam. Também repercutiu mal a “mercantilização” da marca Louvre, licenciada pelo equivalente a quase R$ 2 bilhões. A cifra paga aos franceses pelo país que está entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo não é o único investimento de peso para atrair museus reconhecidos mundialmente. Também na ilha Saadiyat, onde está o Louvre de Abu Dhabi, segue a construção de uma unidade do Guggenheim, que já existe em Nova York, Bilbao (Espanha) e Veneza. Atrasado, deveria ser inaugurado em 2012.

Do ponto de vista da discussão sobre modernização dos museus, o projeto é um avanço. Em vez de dividir suas salas por artistas, temas ou local de origem, ele mistura obras e as dispõem em ordem cronológica. Por cerca de R$ 60 reais, o turista verá peças antiquíssimas, como uma estátua de duas cabeças vinda da Jordânia e que, especula-se, data de 8.000 a.C.

A ideia é juntar no mesmo espaço obras de diferentes lugares do mundo, mas que foram produzidas contemporaneamente, destacando influências e ideias similares em diferentes culturas. Fala de religiões, de revolução industrial e dos desafios da modernidade. Por último, obras contemporâneas, entre elas a do chinês Ai Weiwei, fecham o passeio. Pelo menos em se tratando do acervo, a intenção de criar um museu global foi realizada com êxito.

Museu universal
Primeiro do mundo árabe a se dedicar a diferentes culturas

4 bilhões de reais – Foi o custo do museu

1,7 bilhões de reais – Foi pago ao Louvre francês para cessão da marca

97 mil metros quadrados – de exposição são divididos em 12 estações

600 obras – compõem o acervo, sendo que 300 foram cedidas pelo Louvre original e por outros museus franceses