A famosa casa de leilões Sotheby’s, em Londres, nunca esteve mais lotada do que naquela tarde. Muito menos reuniu tantas celebridades, praticamente um G20. Quando as portas do salão principal se abriram, os líderes das principais potências entraram com feições sérias, dada a gravidade do assunto. O presidente da França, Emanuel Macron, seguido pela chanceler alemã Angela Merkel, o presidente da Rússia, Vladimir Putin e logo atrás, o primeiro ministro do Canadá, Justin Trudeau. Passados alguns segundos, numa pausa ensaiada, entra Donald Trump, logo atrás vem o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, acelerando o passo para alcançar o colega americano e arrancar-lhe um abraço. Em seguida, um séquito de primeiros ministros e presidentes de nações menos importantes, ao menos para Trump.

Na próxima hora, serão leiloados os produtos mais cobiçados do mundo. Apenas três lotes, atualmente em navios no porto de Shangai, cada navio estava com sua lotação máxima de containers e seus comandantes estão apenas aguardando o resultado do leilão para definir suas rotas. Na primeira embarcação, 100 mil respiradores, ou ventiladores pulmonares, no segundo, 20 milhões de máscaras, e no terceiro, um sortimento de diversos equipamentos hospitalares, testes e remédios em falta no mundo todo. O leiloeiro oficial entra no salão e agradece a presença de todos, indica que, além dos presentes, alguns mandatários poderão dar seus lances por telefone. Sem mais demora, inicia os trabalhos pelo conteúdo do terceiro navio.

– Nosso primeiro lote, hoje, é um conjunto de 63 mil aventais, duzentos mil lençóis, trinta mil camas, um milhão e meio de testes de coronavírus e dois milhões de doses de hidroxicloroquina. O lote está estimado em 500 milhões de dólares e o lance inicial é de 150 milhões de dólares, a sala explodiu em gritos. Presidentes levantavam suas plaquetas e berravam seus lances, em questão de segundos atingiram 650 milhões. Bolsonaro, empolgado, vira-se para Paulo Guedes que o acompanhava e diz:

– Viu só Guedes! Cloroquina! Vou mandar 800 milhões! Mas Paulo Guedes segura a plaqueta antes que o presidente consiga dar seu lance.

– Tá maluco, Jair? A economia indo para o buraco e você vai gastar oitocentos milhões nessa tralha? Bolsonaro recua, visivelmente contrariado. Trump, que não havia se manifestado até o leiloeiro bater o martelo no “dou-lhe duas”, na iminência de conceder o lote a Boris Johnson, levanta sua plaquinha:

– 800 milhões! — disse no tom de voz sarcástico de quem sabe que não haverá nenhuma proposta maior.
Na sala ouve-se uma interjeição de espanto. Os Estados Unidos levaram. Bolsonaro reage:

– Tá vendo? Isso é que é presidente! Paulo Guedes não responde.

Vem o segundo lote.

São os 20 milhões de máscaras, com lance inicial em 100 milhões de dólares. Mais uma vez o caos. Bolsonaro insiste:
– Máscaras são importantes, Paulo! Agora deixa, vai?!

– Importante para quem Presidente? Pros velhinhos? Precisa máscara para voltar a trabalhar? Precisa máscara para reabrir o comércio? Ah, faça-me o favor. Bota um lenço na cara e pronto. Mais uma vez Trump espera o último segundo e leva as máscaras. A platéia se manifesta, indignada. Trump apenas torce os lábios, como quem
diz que não está nem aí para a torcida.

– Olhaí Guedes. Tá vendo como se faz?

O último lote era o mais esperado. Os respiradores.

Nesse, Trump sequer espera o lance inicial.

– Um bilhão e meio.

Não deu nem chance para os outros países.

– Tá feliz Guedes? Olha aí. Saímos de mãos abanando. Agora a imprensa vai me comer vivo!

Paulo Guedes pensa um pouco e responde:

– Twita aí que o Trump te deu um abraço!

Bolsonaro olha para o ministro, avaliando a sugestão.

– Boa! Você sempre me surpreendendo.

Batuca no celular e vão jantar.

No momento decisivo Donald Trump arremata. Embasbacada, a trupe brasileira deixa a população sem os itens básicos para se defender da Covid-19