Projetada pelo arquiteto Giancarlo Gasperini, a casa no bairro Cidade Jardim, em São Paulo, foi a residência oficial de Paulo Egydio Martins e sua mulher, Lila Martins, durante muitos anos. Agora, ela será usada como local de exposição para 360 lotes de obras de arte, mobiliário e objetos pessoais de Paulo Egydio, que serão leiloados no final do mês. Há algum tempo, o casal mora em um apartamento e vai se desfazer de parte dessa extensa coleção. São quadros de Portinari, Di Cavalcanti e Mira Schendel que dividem o espaço com móveis mineiros do século 18, tapeçarias caucasianas, cristais Baccarat e esculturas cinéticas.

O leilão será comandado por Luiz Arena, responsável também por organizar as peças na casa, destacando algumas de maior importância. Uma delas é o pequeno quadro “Ciranda”, de Cândido Portinari,um estudo para os paineis “Guerra e Paz”, encomendados ao pintor brasileiro e oferecidos como presente para a sede da ONU, em Nova York. A lista de peças importantes é grande e inclui dois quadros de Di Cavalcanti, um de Mira Schendel e outro de Wesley Duke Lee, além de esculturas de Aleijadinho, Brecheret e Bruno Giorgi e tapeçarias de Iberê Camargo e Norberto Nicola.

O mobiliário e os utensílios também são parte da história. A maioria foi feita em Minas Gerais, nos séculos 18 e 19, e oferecem uma viagem no tempo: as gavetas das mesas, por exemplo, escondem compartimentos secretos, uma prática comum na época. Os lotes incluem cerâmicas da Saramenha, primeira fábrica a produzir potes e moringas em escala industrial no país, além de jogos completos de cristais Baccarat, da França, e samovares de prata.

Livros, charutos e varas de pesca de Paulo Egydio Martins também farão parte do leilão (Crédito:Julia Moraes/Folhapress)

“Colecionadores vêm em busca de peças específicas. Às vezes falta uma escultura
de um determinado período do Brecheret, ou um quadro do Pancetti”

Luiz Arena, leiloeiro

Arena afirma que normalmente o lance inicial pedido pelos móveis e outros objetos costuma ser até 50% menor do valor cobrado em antiquários. No caso das obras, o valor inicial é apenas 20% ou 30% menor. “Colecionadores vêm em busca de peças específicas”, diz ele. “Às vezes falta uma escultura de um determinado período do Brecheret, ou um quadro do Pancetti”, afirma. Quase tudo faz parte da coleção de Paulo Egydio, mas algumas peças de fora foram incluídas por conta da relação entre elas e o leilão. É o caso de uma pequena escultura do Aleijadinho da coleção do leiloeiro. “É interessante ver como essas peças têm relação, mesmo sendo de períodos diferentes”, diz Arena. “Alguns desses móveis poderiam ser peças contemporâneas”.

TRAJETÓRIA

Engenheiro de formação, Paulo Egydio Martins trabalhou como empresário antes de se tornar político. Na década de 1960, foi Ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e Ministro do Trabalho. Chegou ao governo de São Paulo de 1975 e 1979, e durante seu mandato inaugurou a Rodovia dos Bandeirantes, o Hospital das Clínicas e a Universidade Estadual Paulista. Preparou seu sucessor, o engenheiro e banqueiro Olavo Setubal, mas acabou deixando o cargo para Paulo Maluf. Manteve a atuação política, participando da campanha de Tancredo Neves à presidência. Desde 2000 é presidente da Itaucorp S.A., do Grupo Itaú.

Um pouco dessa trajetória estará representada no leilão. Alguns lotes serão dedicados a peças de uso pessoal de Paulo Egydio. São carretilhas e varas de pesca em alto mar, esporte que começou a praticar na década de 1970, além de caixas de charutos, máquinas fotográficas Leica, livros, fotografias e outros objetos. Os lotes estarão expostos nos dias 18, 19, 20 e 21 de novembro, das 12h até 20h, e o leilão acontecerá nos dias 22 e 23 de novembro, às 20h30, e dia 25, às 16h30.

KEINY ANDRADE