A Queda da Casa de Usher (2023) – na Netflix – é uma intrigante releitura de contos populares de Edgar Allan Poe, com 8 episódios, cada um devidamente intitulado com o nome de uma obra do autor gótico. A série é dirigida por Mike Flanagan (Doutor Sono, A Maldição da Mansão Bly), conhecido por suas produções de suspense e terror e traz uma nova camada de complexidade às histórias de Poe, envolvendo uma mordaz crítica à indústria farmacêutica e à ganância, com boas atuações e uma atmosfera carregada de suspense.

Flanagan nos apresenta uma família amaldiçoada pela tragédia e presa em um ciclo interminável de decadência e desespero. Donos de uma grande farmacêutica, os gêmeos Usher (Roderick e Madeline) se desesperam ao perceberem que seus herdeiros estão morrendo um a um, em incidentes bizarros – consumidos por seus próprios demônios internos – e, assim, mergulhamos em um mundo de horrores psicológicos e sobrenaturais. Fãs de Poe e Flanagan: fiquem atentos aos vários ‘easter eggs’!

A obra é um verdadeiro deleite, apresentando de forma acessível os elementos característicos do escritor que influenciou nomes como H.P.Lovecraft. No entanto, para os admiradores ávidos de Poe, a experiência pode evocar sentimentos paradoxais. Embora seja inegável a beleza e relevância das histórias de Poe, elas vão além do conteúdo em si, se estendem à métrica poética e à exploração da sanidade e da melancolia. A adaptação parece, algumas vezes, perder o tom característico das narrativas originais – mas para compensar temos alguns versos tirados diretamente dos contos – e é prazeroso ouvi-los. Somos lembrados porque os contos de Poe continuam a ecoar através das eras, encantando e perturbando leitores há séculos.

A audiência é afrontada com os mesmos medos e obsessões que assombraram o próprio Poe, lembrando-nos da fragilidade da mente humana diante do desconhecido. No desfecho da série, a personagem Verna faz uma crítica mordaz à indústria farmacêutica, que lucra com doenças, medicamentos viciantes, e preços exorbitantes de remédios, deixando um rastro de corpos pelo caminho. Apesar dos benefícios e curas que alguns medicamentos nos proporcionam, a verdade é que somos reféns da indústria farmacêutica — para ela, doença é lucro.

Como Poe disse uma vez: “Para ser feliz até um certo ponto é preciso ter-se sofrido até esse mesmo ponto.” Então, mesmo que o terror não seja o seu gênero preferido, abrace a oportunidade de assistir ao filme A Queda da Casa de Usher com seus pontos positivos e negativos, que não apenas proporciona entretenimento, mas também nos convida à reflexão sobre questões existenciais profundas — e aproveitem para ler os conto do grande Edgar Allan Poe.