OÁSIS Um espaço único: centro cultural de 15 mil m2 fica no bairro da Várzea, onde funcionava a olaria da família (Crédito:Divulgação)

Quase cinco décadas se passaram desde que o artista plástico Francisco Brennand transformou a antiga fábrica do pai em ateliê de trabalho. Sua rotina no local, produzindo esculturas e caminhando entre suas criações, permaneceu a mesma até ele completar 92 anos. Brennand morreu em dezembro de 2019, mas deixou como legado eterno ao Brasil e à cidade de Recife, em Pernambuco, a Oficina Cerâmica Francisco Brennand. Desde então, Marianna Brennand, diretora-presidente da instituição, cineasta e sobrinha-neta do artista, desenvolve um projeto para transformar o local em uma referência artística internacional, nos moldes do Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG).

+ Morre aos 84 anos o artista plástico Christo
+ Morre artista plástico mexicano Francisco Toledo
+ Morre aos 92 anos o artista plástico Francisco Brennand

ACERVO Coleção permanente: cerca de três mil obras de cerâmica e pintura (Crédito:Leo Caldas)

Lucas Pessôa, Diretor-Geral da Oficina Brennand e ex-diretor do MASP, afirma que as semelhanças entre os institutos são restritas ao conceito de museu a céu aberto. “A coleção de Inhotim tem trabalhos produzidos em diferentes contextos, produzidos em outros locais do mundo. Nosso desejo é convidar artistas e a comunidade para que produzam suas obras dentro do Instituto”, afirma. Entre as semelhanças, Pessôa aponta a vocação para expor obras nacionais e internacionais, como exemplo, a escultura “Spider” de Louise Bourgeois, do acervo do Itaú Cultural.

Leo Caldas

Além de celebrar a coleção permanente de cerca de três mil obras de Brennand como pintor e escultor, o espaço passa a ser multidisciplinar e inicia uma ampla programação de exposições e residências artísticas, formação de professores e iniciativas digitais, com workshops e podcasts. Para que toda essa reestruturação fosse possível, foram contratados diversos profissionais gabaritados do universo das artes. Além de Corrêa, que em sua passagem pelo Museu de Arte de São Paulo socorreu o local de uma possível falência, veio a curadora Júlia Rebouças, ex-diretora artística de Inhotim entre 2007 a 2015.

“Nosso desejo é convidar artistas e a comunidade para que produzam suas obras dentro do Instituto” Lucas Pessôa, Diretor-Geral da Oficina Brennand

Com o calendário ainda indefinido por causa da pandemia, o próximo projeto a sair do forno será uma instalação de Ernesto Neto. Pelo caráter interativo do seu trabalho, no entanto, a exposição da obra deve ficar para o ano que vem. Há uma única certeza no cronograma: em dezembro, quando o Instituto completa 50 anos, haverá uma megaexposição inédita de Brennand. Além das três mil obras, está prevista uma mostra com o acervo de colecionadores particulares, material inédito e obras que hoje estão em museus. Haverá ainda cursos de formação para professores da rede pública e um programa de residência que abrirá a oficina para sete artistas trabalharem no local. Os projetos escolhidos não precisam estar relacionados à cerâmica: vale toda forma de expressão artística, como dança e literatura. A organização do Instituto Oficina Cerâmica Francisco Brennand mostra que a arte brasileira, quando bem pensada e estruturada, pode sobreviver muito bem — mesmo durante os tempos mais sombrios.