O jornalismo brasileiro tem hoje uma função especialmente nobre, fulcral para a saúde da democracia, decisiva para o futuro de todos: impor racionalidade para o governo de Jair Bolsonaro a qualquer custo e fazer com que o presidente use a razão em benefício dos cidadãos de uma vez por todas. É necessário exigir que ele saia de seu mundo próprio, delirante e obtuso. Vive-se hoje no Brasil um regime de exceção intelectual em que a ignorância é promovida como virtude e tratada como vantagem competitiva. Com o exemplo presidencial, o negacionismo se mistura com a burrice e cabe à imprensa lutar todos os dias, a cada segundo, contra a imersão programada do País nas trevas.

Vivemos um momento histórico disparatado e para tentar colocar alguma ordem no caos, nada como um jornalismo eficaz, atento aos fatos, preciso, analítico e investigativo. Se existe pelo menos um objetivo fundamental do trabalho jornalístico brasileiro agora, é dar um nó na cabeça do presidente, colocá-lo no seu lugar de funcionário público e pulverizar o rastro de absurdos que cada fala sua deixa na sociedade. Esse esforço está dando resultados. O principal sinal de que o jornalismo funciona e está sendo bem feito é a irritação e o incômodo permanente de Bolsonaro e de seus filhos com a imprensa. O fato de o presidente detestar jornalistas só fortalece a classe, a dignifica. Como não consegue debater qualquer ideia, tripudia com os profissionais que vigiam e analisam seus atos e os de sua prole.

Bolsonaro busca desqualificar a informação jornalística e desacreditar a imprensa. Essa intenção, porém, está condenada ao fracasso

Em 2020, segundo levantamento da ONG Repórteres sem Fronteiras, houve 580 ataques à imprensa no Brasil, dos quais 469 foram promovidos pelo clã Bolsonaro. Espinafrar a imprensa é a atividade preferida da família. Desaforos, impropérios e ofensas gratuitas contra jornalistas estão no cerne do discurso direitista e antidemocrático do presidente. Claro que tudo não passa de medo e de reconhecimento da força e da acuidade do método jornalístico.

Outro levantamento feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) contabilizou 428 casos de violência verbal contra profissionais de imprensa no ano passado, dos quais 175 partiram da boca de Bolsonaro. Foram discursos baseados em mentiras que buscaram desqualificar a informação jornalística e desacreditar a imprensa. Essa intenção, porém, está condenada ao fracasso. O antídoto contra a estupidez governamental é a apuração precisa, a racionalidade, o pensamento crítico e a defesa da democracia. A verdade é que o jornalismo, com Bolsonaro no poder, está cada vez mais forte e útil.