Quando começaram a circular informações sobre a delação de Cláudio Melo Filho, ex-executivo da Odebrecht, envolvendo um grande número de políticos, a sensação de fim de mundo tomou conta da maioria em Brasília. Até mesmo no que se refere à viabilidade do governo Temer.

A gravidade da situação é, de fato, incontornável, mas, antes de se chegar à mais pessimista das previsões, há um percurso obrigatório que começa com a manutenção da pauta legislativa. O governo concluiu, dentro do cronograma previsto, a votação da PEC dos Gastos, peça-chave do ajuste fiscal.

É relevante que o Planalto tenha conseguido alta taxa de sucesso na votação de matéria com elevada dose de rejeição – 60% da população, segundo pesquisa Datafolha. A principal medida de ajuste esse ano foi aprovada, apesar do desfalque na coordenação política e da propagação massiva da mais tóxica das delações da Lava-Jato até agora.

No limite, o governo Michel Temer mostrou que ainda conserva significativo potencial de articulação e que sua maior vulnerabilidade permanece sendo a falta de reação da economia. Nesse sentido, falta uma ação coordenada da equipe econômica para destravar o ambiente de negócios no Brasil. O time econômico está sendo tímido ao se apegar a uma narrativa monotemática de ajuste fiscal quando deveria se mostrar muito mais ativo e disposto a desburocratizar o investimento no País. O grupo não está dando o devido valor ao fato de que sem o setor privado não haverá salvação para o fim do desemprego.
O anúncio de um minipacote econômico para combater a recessão é um começo. Mas precisamos de muito mais. Sobretudo de medidas que ataquem problemas estruturais da atividade econômica, como a complexidade do sistema tributário, a demora de emissão de licenças diversas, a dificuldade na obtenção de crédito, entre outros.

Enquanto o governo corre da sala para a cozinha, acuado por denúncias, dormita nas gavetas ministeriais uma série de iniciativas que poderiam facilitar a vida de quem investe e quer gerar empregos. Aparentemente, o governo já percebeu que caminho seguir. Mas parece temeroso e desarticulado em dar sinais consistentes de que o jogo econômico vai recomeçar e que a retomada do crescimento é possível. Mesmo com todo o sofrimento que a Operação Lava-Jato possa causar.

O governo Michel Temer mostrou que ainda conserva significativo potencial de articulação e que sua maior vulnerabilidade é a falta de reação da economia

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