O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, tem se mostrado um jogador de xadrez que calcula friamente os movimentos do tabuleiro eleitoral. Ele quer chegar ao final de outubro, com o término das eleições, como político indispensável para a governabilidade do próximo presidente, de preferência que seja Lula. Parte importante do jogo ele desenvolve neste mês de março. Lançou Rodrigo Pacheco candidato a presidente, mas o senador não se dispôs a fazer parte da encenação. Tenta agora Eduardo Leite. O objetivo é dividir a terceira via e bloquear uma reação de Doria. O plano é garantir o segundo turno entre Lula e Bolsonaro, onde o petista engole o presidente. Encorajou Alckmin a ver vice do PT porque o ex-tucano racha o PSDB e a centro-direita em favor do lutopetismo.

Força

Paralelamente, Kassab vai fortalecendo suas bases nos estados. Sua meta é eleger em torno de 20 senadores (o PSD tem 11) e pelo menos 50 deputados (tem 36). Articula também a eleição de cinco ou seis governadores, como no Paraná, Minas Gerais e Amazonas. Com essa bancada, o seu partido passa a ter grande influência sobre o futuro presidente.

Estados

Não é por outra razão que o ex-ministro trabalha para atrair o maior número de filiados nesta janela partidária. No Sul,
já garantiu a adesão de Ana Amélia, que foi vice de Alckmin em 2018, para ser candidata ao Senado. No Rio, o prefeito Eduardo Paes está filiando vários deputados federais ao PSD, como é o caso de Pedro Paulo e Marcelo Calero.

Impasse no acordo do PT com o PSB

Evaristo SA

A deputada Tabata Amaral foi um dos motivos que emperraram o fechamento de uma federação entre o PT e o PSB. Em relação à eleição de 2022, estava tudo bem. Lula terá o PSB como vice (Alckmin) e a situação está pacificada. Mas o prefeito de Recife João Campos impôs que em 2024 sua namorada, Tabata, seria candidata a prefeita de São Paulo, enquanto Lula já havia prometido a vaga para Guilherme Boulos.

Retrato falado

“Lula não vai mais enganar os evangélicos” (Crédito:Gilmar Felix)

O deputado Sóstenes Cavalcante (União Brasil-RJ), líder da bancada evangélica, disse que o ex-presidente Lula enganou os evangélicos em sua primeira eleição (2002), mas que isso não voltará a se repetir este ano. “É natural que Lula tente a inserção no meio evangélico, mas ele já soube enganar muito bem a todos até aqui.” Ele disse que nos dois governos de Lula e no governo de Dilma “as políticas postas em prática pelo PT estiveram divorciadas dos valores que defendemos”.

Está ruim

A situação da economia brasileira vai de mal a pior. Em fevereiro, o IPCA medido pelo IBGE foi de 1,01%, quase o dobro de janeiro, e acumulou uma taxa de 10,54% em doze meses. É o pior resultado desde 2015, no famigerado governo Dilma. O aumento se deu com base no aumento das mensalidades escolares e no preço dos alimentos. Nada teve a ver com o efeito do megarreajuste dos combustíveis do início deste mês. Isso significa dizer que em março a inflação vai a 11% ou 11,5%, e vai estourar todos os planos de uma meta da inflação de 3,5% a 4%. Paulo Guedes errou feio. Vamos depender agora do arrocho na taxa de juros do BC, que deve subir para 14% em breve.

E vai piorar

E ainda não estamos falando sobre os efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia. A FAO, fundo de alimentação da ONU, prevê que os produtos exportados pelos dois países em guerra (trigo, cevada e milho) devem subir 20%. Além disso, o Brasil terá efeitos devastadores do aumento dos derivados de petróleo.

Gato e rato

Está um verdadeiro jogo de esconde-esconde na aliança que sustenta o PT no poder da Bahia, já que o governador Rui Costa (PT) não pode ser candidato à reeleição. Depois que Jaques Wagner (PT) desistiu de ser candidato a governador, contrariando Lula, ninguém mais quer o posto. Indicado para a vaga, o senador Otto Alencar (PSD) também se recusa a aceitar a missão.

Márcio Lima

Surge um tertius

O problema é que para manter a aliança, Costa tem que renunciar ao cargo este mês em favor do vice, João Leão (PP), para ele ficar no governo até dezembro. Surge agora a possibilidade de Jerônimo Rodrigues (PT) ser candidato ao governo e Otto Alencar Filho (PSD) ao Senado. Costa pode acabar saindo para deputado federal. Lula vai ter que intervir.

O candidato dos prefeitos

Edilson Dantas / Agência O Globo

Rodrigo Garcia assumirá o governo de São Paulo dentro de quinze dias no lugar de João Doria, que disputará a presidência, com uma marca impressionante. Terá apoio de 523 dos 645 prefeitos do estado, o que significa dizer que é o candidato de 81% dos chefes dos executivos municipais. Só do PSDB são 250 prefeitos. Os outros são até de prefeitos que apoiam Bolsonaro, como PL e PP.

Toma lá dá cá

Simone Marquetto, prefeita de Itapetininga (MDB-SP) (Crédito:Divulgação)

Como a senhora vê a possibilidade de o MDB se aliar ao PSDB para disputar a presidência nas eleições de outubro?
É perfeitamente possível essa aliança. Eu, por exemplo, sou do MDB e meu vice é do PSDB. O PSDB de Doria tem feito um bom trabalho no estado em benefício das cidades, algo que não víamos há um bom tempo.

A senhora acha possível uma chapa Doria-Simone Tebet?
Seria muito bom, mas com a Simone na cabeça, por ser mulher, senadora e por ter feito um excelente trabalho pelo Brasil. Ela tem se mostrado muito preparada.

O que acha da polarização entre Lula e Bolsonaro?
Transíto bem nos governos federal e estadual, mas precisamos de equilíbrio e diálogo. O extremismo não dá certo em lugar nenhum.

Rápidas

* A PF fez operação policial contra três deputados federais do PL, o partido do presidente, entre eles Josimar Maranhãozinho, que caiu nas malhas dos federais pela terceira vez. Valdemar Costa Neto acha que Bolsonaro quer detoná-lo e ficar com o partido para ele.

* O jornalista Merval Pereira, de O Globo, acaba de assumir a presidência da Academia Brasileira de Letras, pregando que a centenária entidade (125 anos) se torne uma “trincheira a favor da paz”. Quer modernizar a ABL.

* O senador Alessandro Vieira deixou o Cidadania no sábado, 12, atirando no presidente do partido, Roberto Freire. Disse que entrou para a legenda com a ideia de renová-la, mas o dirigente nacional está no posto há 34 anos.

* Ao lançar Tereza Cristina para o Senado pelo Mato Grosso do Sul e o sanfoneiro Gilson Machado como candidato a senador por Pernambuco, Bolsonaro praticamente decidiu que seu vice será o general Walter Braga Neto.