Numa dança vertiginosa entre classes sociais, o filme coreano Parasita (2019), dirigido por Bong Joon-ho (Expresso do Amanhã, Okja), que recebeu o Oscar de melhor filme em 2020 marcando a primeira vez que um filme de língua não inglesa conquistou o prêmio mais cobiçado da indústria cinematográfica, se ergue como uma obra-prima do cinema contemporâneo.

A trama é tão intrigante quanto perturbadora, e nos envolve em um labirinto de ilusões e realidades, onde as linhas que separam os privilegiados dos desfavorecidos se tornam cada vez mais difusas. Embora ambientado na Coreia do Sul, sua mensagem sobre desigualdade e luta de classes é universal, tocando as fibras mais sensíveis de audiências ao redor do mundo — mas segue sendo mal interpretado por muitos.

A história começa com a família Kim, que vive em condições precárias num porão úmido e apertado, e o filho mais velho tem a oportunidade de se tornar o tutor de inglês da filha de uma família rica, os Park. Os Kim veem nisso a chance de escapar da pobreza que os aprisiona, e através de uma série de mentiras, toda a família se infiltra na vida dos Park.

A partir desse ponto, se desenrola uma espiral de eventos imprevisíveis, revelando as facetas mais sombrias da natureza humana, que chega ao ápice depois que fortes chuvas inundamo lar dos Kim.

A película transcende o entretenimento e as diferenças culturais ao abordar questões profundas e universais sobre desigualdade, alienação e a busca desesperada por ascensão social — e questiona a validade de um sistema que perpetua a divisão entre ricos e pobres, explorando as consequências devastadoras dessa disparidade.

Através da metáfora da “parasitagem”, somos levados a refletir sobre a natureza da sociedade, onde a desigualdade econômica é uma realidade onipresente, onde muitos indivíduos lutam para encontrar um lugar num mundo dominado pelo dinheiro e pelo poder. Ninguém está imune às consequências de suas ações, nem das ações da natureza, abusada pelo capitalismo, e a busca insaciável por status e riqueza, pode levar à ruína tanto os opressores quanto os oprimidos.

Diante da catástrofe ocorrendo no Rio Grande do Sul, é sempre bom lembrar que quem tem menos recursos sempre é mais prejudicado, e portanto devemos estar atentos em quem votar para nos representar, além de ter mais consciência sobre os efeitos devastadores da ganância capitalista no meio ambiente.

Parasita nos faz questionar nossos próprios privilégios e a reconhecer a humanidade naqueles que muitas vezes são marginalizados e ignorados. Mais do que uma simples obra de ficção, é um espelho cruel que reflete as injustiças e as contradições de uma sociedade que ainda tem muito a aprender.