Quando o ator Mário Frias assumiu a Secretaria da Cultura já se esperava que ele faria uma gestão catastrófica e destrutiva, de decisões arbitrárias e desmantelamento da pasta. Alimentado ideologicamente nas hostes bolsonaristas, tudo indicava que ele transformaria o cargo num bastião da guerra cultural, cujo objetivo é promover o obscurantismo e levar o País para a Idade Média. Era difícil imaginar, porém, o nível de truculência de Frias. Desde que conseguiu seu porte de armas no final do ano passado, o secretário chega diariamente ao trabalho equipado com uma ameaçadora pistola Taurus calibre .9 mm na cintura.

A decisão mostra seu alinhamento doentio com o chefe Jair Bolsonaro, grande incentivador do armamentismo, e também sua vontade de gerar tensão e tornar o ambiente da Secretaria mais sinistro e perigoso. Com sua iniciativa, Frias inaugurou uma nova categoria de funcionário do governo: a do secretário jagunço. É o sujeito que pratica a cultura do porrete, impõe o medo na administração e, em vez de exibir livros e sabedoria, mostra armas.

O que se sabe do clima atual na Secretaria de Cultura é que beira o terror. Há quem defina o ambiente como “de Doi-Codi”, órgão da ditadura que praticava torturas. Em setembro, dois meses depois de assumir, Frias decidiu centralizar o controle de todos os conteúdos de postagens nas redes feitas pelas instituições ligadas à pasta, como a Funarte ou a Fundação Palmares e, desde então, passou a censurar informações e impedir a transparência do governo.

Mario Frias inaugura a prática e a cultura do porrete. Ele impõe o medo na administração e, em vez de exibir livros e sabedoria, mostra armas

Funcionários são perseguidos, principalmente aqueles que são chamados para dar informações em audiências públicas e falam a verdade. Chefes experientes e ocupantes de cargos estratégicos são demitidos sumariamente e substituídos por gente sem experiência ou o mínimo conhecimento da área. Um encontro promovido há dois meses pela Associação de Servidores do Ministério da Cultura (AsminC) revelou que a Secretaria e as fundações a ela atreladas vivem numa situação de assédio institucional permanente.

Exercer um cargo público armado, sem qualquer necessidade, é uma demonstração de insensibilidade e de vontade autoritária. Numa secretaria como a da Cultura, na qual a arte e conhecimento deveriam ser valorizados e não a violência e o conflito, trata-se de um ultraje.

O problema é que para Frias, pelo jeito, a autoridade depende de uma pistola na cintura. Só assim ele consegue se impor.