O presidente Jair Bolsonaro foi eleito pregando a intransigência no combate à corrupção e quando levou o então ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro, para o Ministério da Justiça, disse-lhe que se houvesse qualquer sinal de malfeitos por parte de um integrante do governo essa pessoa seria sumariamente demitida. Pois bem. O ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG) está sendo investigado pela Polícia Federal mineira por ter comandado um esquema de candidaturas laranjas, que desviaram quase R$ 300 mil do fundo público eleitoral, o que inclusive levou à prisão três dos seus principais assessores, mas o presidente não vê nada de mais na ação de seu subordinado. “Por enquanto, não tem nada contra ele”, disse o presidente. Ora, a PF já coletou dezenas de depoimentos e apreendeu documentos suficientes para incriminar o ministro, mas ele prossegue intocável no governo. Muitos outros ministros foram demitidos por muito menos. Afinal, o que o torna inimputável?

O ministro do Turismo é alvo de uma investigação da Polícia Federal como suspeito de comandar um esquema criminoso nas eleições do ano passado. Segundo as denúncias, o diretório do PSL em Minas Gerais, presidido por Antônio, repassava os 30% do fundo partidário para candidaturas femininas sem qualquer tipo de competitividade, com o intuito apenas de que esse dinheiro fosse devolvido a empresas e pessoas ligadas a integrantes do gabinete então parlamentar (ele era deputado federal) e hoje ministro do Turismo. Em um dos depoimentos já prestados à polícia, uma ex-candidata a deputada estadual pelo PSL mineiro, a professora aposentada Cleuzenir Barbosa, disse que foi coagida pelo próprio ministro a devolver R$ 50 mil, dos R$ 60 mil recebidos por ela durante a campanha. Ao todo, Álvaro Antônio destinou R$ 279 mil a quatro candidatas laranjas, que devolveram R$ 85 mil para empresas de assessores, parentes ou sócios do ministro.

CHEGOU PERTO A PF ronda os assessores do ministro Álvaro Antônio (à esq.): prendeu Mateus Von Rondon (à dir.), um de seus braços direitos (Crédito:Divulgação)

Assessores presos

Na semana passada, a PF desencadeou a Operação Sufrágio Ostentação e pendeu três pessoas ligadas a Antônio. Entre elas, estava um assessor especial do ministro, Mateus Von Rondon. Também foram presos um dos coordenadores da campanha de Antônio à Câmara no ano passado, Roberto Silva Soares, e um ex-assessor do ministro na Câmara, Haissander Souza de Paula. Todos, no entanto, foram soltos esta semana, depois de terem sido indiciados pela PF por falsidade ideológica, associação criminosa e emprego ilícito do fundo eleitoral.

Desde o início do ano, cobra-se do presidente uma atitude mais drástica em relação ao ministro, mas nada abala a credibilidade de Antônio. Nem mesmo diante das evidências, com tantas provas obtidas pela PF comandada por Moro, o presidente se anima a por em xeque a idoneidade do ministro. “Por enquanto, tenho 22 ministros. Tem de ter acusação grave, acusação com substância. Por enquanto, não tem nada contra ele. Se o assessor falar e for confirmado que ele tem participação, aí a gente toma providência”, disse Bolsonaro na terça-feira 2. O fato é que em cinco meses, três ministros já foram demitidos e por motivos bem mais banais: Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência), Ricardo Veléz Rodriguez (Educação) e Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo). O primeiro caiu por desentendimentos com o filho do presidente, Carlos Bolsonaro; o segundo, por falta de habilidade de gestão; e o último também por desentendimentos com Carlos.

Nos bastidores do Palácio do Planalto circulam teses relacionadas à manutenção de Álvaro Antônio no cargo. A primeira é de ordem política. O ministro do Turismo é o único nome do PSL na Esplanada dos Ministérios e seria altamente nocivo se ele caísse por suspeita de corrupção, o que poderia dar munição aos adversários do PSL, como o PT. Uma segunda tese é que a exoneração do ministro pelo presidente daria uma espécie de “atestado de culpa antecipada” de Álvaro Antônio. E isso é tudo o que o presidente não quer neste momento de fragilidade no Congresso. Apesar disso, interlocutores do Planalto admitem que Antônio está perto de uma exoneração, sobretudo se a PF desenvolver outra operação nas hostes do ministro. O fato é que o presidente está dividido entre manter o discurso de combate à corrupção e ao mesmo tempo não se desfazer de um ministro atolado em acusações.