O Sete de Setembro de 2021 provavelmente foi o mais longo da história, quiçá até mais longo que o de 1822. Em virtude das ameaças golpistas de Bolsonaro, a efeméride se antecipou e invadiu a agenda de agosto e projeta-se sobre o nosso futuro próximo. Entre apreensivos e perplexos, comentamos à exaustão como seria este dia, o que seria do Brasil pós-feriado, procuramos recolher explicações plausíveis que justificassem como o autoritarismo ganhou força de tal modo que se tornou uma força poderosa capaz de destruir o que restou da democracia, que vem sendo dilapidada dia sim, outro também.

Eis que passamos do umbral do Sete de Setembro, mas seus desdobramentos insistem em nos assombrar, a despeito do aparente recuo do presidente (?) da República. Num discurso envernizado pelas tintas do “era brincadeirinha”, o mandatário do País sugere que o feriado da Independência seja visto como fato insignificante do passado e que esqueçamos tudo que disse, afinal falou o que falou no calor da hora.

A democracia vem sendo dilapidada dia sim, outro também. O que está faltando para que se sacramente o pedido de impeachment?

A personalidade mercurial de Bolsonaro não é mais novidade pra ninguém. Como também não é novidade a diminuição da temperatura de seus discursos quando se vê acossado pelas possíveis consequências de sua agressividade ameaçadora. Mas, às desculpas esfarrapadas de Bolsonaro segue-se também o ritual de “passamento de pano”: “as instituições estão funcionando plenamente”, “o presidente não ousará ultrapassar os limites da legalidade”, “tudo está sob controle” até que ele volte com sua vernacular grosseria e brutalidade. O que está faltando para que se sacramente o pedido de impeachment? O que Bolsonaro ainda não disse para que haja consenso em torno de sua deposição do posto presidencial? Não bastam as provas de que cometeu crime de responsabilidade? Não são suficientes as demonstrações cabais de que nunca foi apto para exercer o papel de presidente?

Urge que vejamos o Sete de Setembro como uma data que marca as indefinições de um governo autoritário, errante, golpista, que bloqueou o nosso futuro, tornando-nos reféns de um rebaixamento sem precedentes, inclusive da nossa inteligência. O professor e colega Julio Cesar Vellozo lembrou recentemente que o Sete de Setembro de 2021 seria a janela propícia para o presidente da República, se tivéssemos um, anunciar as ações do Bicentenário da Independência. O que tivemos, no entanto, foi um autoritário vociferando para milhares, apostando todas as fichas que lhe restam para manter-se no cargo, à custa da democracia e da civilização.