Ser ambientalista no Brasil é uma das tarefas mais difíceis e perigosas do mundo. Basta lembrar-se do seringueiro Chico Mendes ou da religiosa Dorothy Stang. O grande risco é morrer, sucumbir a um ataque covarde, perder a vida defendendo uma causa justa. Os algozes são madeireiros, garimpeiros, grileiros e todo tipo de destruidor da floresta e as vítimas preferenciais são indígenas, trabalhadores rurais, pequenos proprietários de terras e políticos. Na medida em que aumenta a pressão destrutiva, cresce também a violência contra aqueles que trabalham pela preservação, como mostra o último relatório da organização internacional Global Witness, referente a 2020. No ano passado, em todo o mundo morreram 227 ativistas do meio ambiente e o Brasil, com 20 assassinatos, ficou em quarto lugar entre os países que mais matam defensores da natureza. Só é superado por Colômbia, México e Filipinas.

A maior parte dos crimes contra pessoas que cuidam da natureza está associada a conflitos fundiários

O que mais se vê são indígenas mortos tentando defender seus territórios. Há o caso de Zezico Rodrigues Guajajara, por exemplo, que enfrentava os madeireiros e vinha denunciando invasões de terra na área de seu povo, no Maranhão. Ou de Ari Uru-Eu-Wau-Wau, cuja função era proteger a floresta dos ataques de invasores. Os mesmos destinos trágicos tiveram Marcos Yanomami, 20 anos, e Original Yanomami, 24 anos, assassinados por garimpeiros em Roraima. No sul da Bahia, o líder da comunidade quilombola do Barroso, Antônio Correa dos Santos, foi atingido por três tiros dentro de sua casa, no ano passado, por causa de conflitos com os pequenos proprietários rurais do Varjão. A maior parte dos crimes contra ambientalistas está associada a conflitos fundiários e atingem membros de minorias combativas, como indígenas e quilombolas.

Os dados sobre o aumento da violência contra ambientalistas se alinham com os números fornecidos pelo Atlas da Violência 2021, recém-divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), que mostram que entre 2009 e 2019 os assassinatos de indígenas aumentaram 22%, de 15 mortos para 18,3 mortos a cada 100 mil habitantes, na contramão da tendência geral na sociedade, que foi de diminuição dos homicídios. A guerra campal instalada no interior do Brasil, principalmente na região amazônica, área que concentra o maior número de mortes de ambientalistas, está fora de controle. O fato é que no Brasil quem protege a natureza ou quem vive dela está seriamente ameaçado de sucumbir à violência e tombar em alguma emboscada, de maneira cruel e traiçoeira.