Governante mais impopular do planeta, segundo uma pesquisa divulgada pela consultoria Eurasia, Michel Temer conseguiu mais uma vez se salvar. Graças a sua conhecida habilidade na arte de aliciar deputados, Temer escapou da denúncia por obstrução judicial e comando de organização criminosa, mas obteve uma vitória de Pirro.

Sem alcançar a maioria dos votos na Câmara dos Deputados, ele mostra ao País uma base de apoio frágil – e que tende a se esfacelar ainda mais, com a proximidade das eleições. Estar próximo a ele significa se associar a um projeto ilegítimo, impopular e fracassado diante da grande maioria dos eleitores.

Se isso não bastasse, a luta de Temer pelo poder não se esgotou. Na semana passada, o STF apressou o inquérito que investiga a sua participação em esquemas de corrupção no porto de Santos – o que significa que ele ainda pode vir a ser alvo de uma terceira denúncia. Além disso, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se mostra cada vez mais insatisfeito, ainda tem 25 pedidos de impeachment engavetados contra Temer.

Fechando a semana, um dia depois do livramento de Temer, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) soltou uma nota duríssima em que sugere que os brasileiros saiam às ruas para lutar contra a compra escancarada de deputados e retrocessos como a liberação do trabalho escravo nas fazendas – uma das moedas usadas na barganha da semana passada.

O enfraquecimento de Temer, agora convertido em “pato manco”, não significa, no entanto, que sua capacidade de produzir danos esteja esgotada. Uma de suas próximas tarefas é privatizar a Eletrobrás, no momento em que o Brasil convive com reservatórios secos, acaba de aumentar em 43% a bandeira vermelha da energia e já enfrenta riscos de apagão. Se a situação já era precária, a segurança energética do País tende a se agravar ainda mais com a possível transferência do parque gerador nacional a grupos privados – ou a estatais chinesas.

Temer tentará ser lembrado como um “presidente reformista”, mas já deve andar arrependido de ter participado de uma conspiração política que fez com que o Brasil chegasse ao atual nível de degradação moral e institucional.

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Três de seus melhores amigos, Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, estão presos e ainda o assombram. Prova disso foi a batida no Ministério do Turismo contra três assessores de Henrique Alves, que, segundo a Polícia Federal, comandaria esquemas de corrupção de dentro da cadeia.

Metido a poeta, Temer já escreveu que embarcou em muitas naus sem chegar a lugar nenhum. O que as pesquisas mostram é que a chamada “ponte para o futuro” foi mais uma uma dessas canoas furadas, que já se transforma em ponte para o inferno aos olhos da população brasileira.


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