12/08/2022 - 9:30
É motivo de júbilo e de grande comemoração. Daqui a duas semanas o Brasil vai ganhar um dos mais incríveis museus nacionais, que voltará a ser um dos espaços de exposições com maior visitação da América Latina e vai se tornar um lugar de reflexão permanente sobre a independência e a nacionalidade. Depois de nove anos fechado, abandonado e chegando a correr risco de desabamento, o Museu do Ipiranga ressurge vigoroso para o século 21 nas comemorações do bicentenário do grito de Dom Pedro I, turbinado por R$ 211 milhões de investimentos privados, usados na restauração de seu prédio histórico e numa ampliação primorosa que vai permitir exposições temporárias e uma rotina dinâmica de cursos e seminários de agora em diante. O que se espera do novo ambiente é que ele se torne um lugar de intensa convivência cultural e de discussão sobre a realidade brasileira, onde se possa exercer a cidadania e pensar a história do País. São expectativas alvissareiras que permitem projetar, a partir de 2023, um público de mais de um milhão de visitantes por ano, marca que já atingiu no passado, graças ao grande número de estudantes que sempre atraiu.
O projeto de restauração e ampliação do museu ficou a cargo do escritório H+F, dos arquitetos Eduardo Ferroni e Pablo Hereñu, que venceu um concurso público em 2018. As obras começaram no ano seguinte e, entre as referências para a nova construção, a dupla de arquitetos estudou a já clássica reforma do museu de Castelvecchio, em Verona, na Itália, levada adiante pelo arquiteto Carlo Scarpa entre as décadas de 1950 e 1970, e a ampliação recente do Neues Museum, em Berlim. A própria obra do Louvre, de 1989, que envolveu a instalação de uma nova entrada e de um imenso ambiente receptivo, também foi analisada pelo escritório, embora o projeto do Museu do Ipiranga fosse menor. “O principal, porém, foi estudar muito bem o prédio antigo, que tinha muitas coisas a revelar e muitos segredos”, diz Ferroni. “Descobrimos os bastidores do museu, espaços que ficavam atrás das salas e que não eram vistos pelo público e agora serão usados para circulação e exposições.”
O principal desafio do projeto, segundo Ferroni, além do tempo curto (três anos para as obras), foi conectar a estrutura monumental com a nova construção, cuja principal função será receber e acolher o público, com sanitários, guarda-volumes, loja, café, auditório para 200 pessoas, salas de aula e tudo mais que não cabia no pavilhão do século 19. A ampliação utiliza um desnível de oito metros que já havia no terreno e para levar a obra adiante foram adotadas tecnologias construtivas de escavação iguais às usadas pelo Metrô. Cerca de dois mil caminhões retiraram a terra do local. “Para a gente era importante manter a narrativa da entrada do prédio antigo. E se criou a conexão da ampliação com o saguão original com duas escadas rolantes”, explica. Ao subir e descer as escadas, o público poderá ver como eram as fundações da construção monumental.
Na inauguração do museu, no dia 7 de setembro, serão abertas 11 exposições permanentes e uma temporária chamada Memórias da Independência, com duração de quatro meses, que além da epopéia paulista, incorporará movimentos libertadores de outros estados, visando mostrar a amplitude do processo histórico. Com as exposições temporárias, que terão uma área de 1,2 mil metros quadrados com climatização e controle de umidade, o museu deixará de ser estanque e se tornará dinâmico, recebendo coleções de outras instituições, inclusive internacionais e abrindo uma discussão permanente sobre a nacionalidade. “Tudo isso faz do museu algo intrigante e, de alguma maneira, a reforma permite que se reconte a história. Com as exposições temporárias serão incorporadas novas visões do processo histórico”, diz. A área expositiva total do Ipiranga passará a ser de cerca de 5 mil metros quadrados. O edifício ganhou também um mirante no topo com visão de 360 graus.
Uma das preocupações fundamentais embutidas no projeto, diz Ferroni, foi com o desenvolvimento da parte educativa. Ele destaca que por se tratar de um museu da Universidade de São Paulo (USP), ele é fortemente orientado para a pesquisa e o ensino e foi estabelecido que as salas de aula ficassem visíveis para o público e integrassem a nova arquitetura. “Queremos que a pesquisa e a educação sejam experimentadas pelos visitantes”, afirma. Outro pré-requisito arquitetônico foi fazer que a nova área se abrisse para o fabuloso Jardim Francês, que também foi restaurado, integrando os espaços. O próprio piso do parque se estende para o ambiente interno de acolhimento. “A nova área foi pensada para ser uma extensão do parque, um lugar convidativo onde as pessoas queiram ficar”, diz Ferroni. O arquiteto imagina algo parecido com o Sesc Pompeia ou com o Centro Cultural São Paulo, lugares deliciosos onde a população tem prazer em circular. Tudo indica que o novo Ipiranga já vai nascer como um dos lugares mais agradáveis de São Paulo. E do Brasil.