Agradecimento - Baiano se emociona às margens da lagoa Rodrigo de Freitas
Agradecimento – Baiano se emociona às margens da lagoa Rodrigo de Freitas

Aos 5 anos, Isaquias Queiroz perdeu o pai, vítima de derrame. Aos 7, mexeu no fogão e despejou sobre o corpo uma panela de água fervente. Aos 10, caiu em cima de uma pedra e sofreu lesões internas que lhe custaram um rim. Nesse tempo todo, viu a mãe Dilma Queiroz dar duro como servente da rodoviária de Ubaitaba, cidade baiana de 20 mil habitantes a cerca de 400 quilômetros de Salvador. A vida sempre foi difícil e durante muito tempo ele achou que nada seria capaz de alterar o seu destino. Tudo mudou graças ao Rio das Contas, um pequeno curso d´água que corta o município. Isaquias descobriu a canoagem por meio do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esportes, que desembarcou na região com o objetivo de forjar talentos. Uma década depois, se tornaria o herói olímpico mais improvável do País. Até a sexta-feira 18, Isaquias havia conquistado duas medalhas (prata e bronze) nos Jogos do Rio. Foi apenas o quinto brasileiro a subir ao pódio duas vezes em uma mesma edição olímpica. “Estou entrando para o grupo dos melhores atletas da história do Brasil”, disse, exibindo a conhecida – e justa – falta de modéstia.

Aflição de mãe

Como a própria trajetória de Isaquias, a segunda medalha foi sofrida. O baiano errou a remada na largada, ficou na última colocação e precisou imprimir muita força para alcançar os líderes. Perto da linha de chegada, projetou o corpo para trás para dar mais velocidade ao caiaque e vencer no photochart, o aparelho que registra várias imagens por segundo para decidir quem chegou na frente. Isaquias caiu na água e demonstrou muita irritação com o desempenho. Por alguns segundos ficou submerso, o que deixou aflita dona Dilma. A mãe, que estava na torcida, olhou para o Cristo Redentor e pediu que o filho emergisse. “Ele demorou muito para aparecer na chegada e pedi para o Senhor trazer o meu filho de volta.”

Emoção - Com a mãe, Dilma, após inédita medalha nacional na canoagem
Emoção – Com a mãe, Dilma, após inédita medalha nacional na canoagem

É impossível não simpatizar com Isaquias e sua família. Os Queiroz, que ainda vivem em Ubaitaba, vieram em peso ao Rio. Mãe, tios, irmãos, primos, todos falam pelos cotovelos e adoram contar histórias saborosas do parente ilustre. Lembram que o garoto fugia dos treinos de canoagem, porque não gostava “que mandassem nele”, segundo dona Dilma. Ela também dá detalhes da primeira vez que o filho voou de avião e o orgulho que sentiu nesse dia. Aos 22 anos, Isaquias pode se tornar uma lenda do esporte brasileiro. Se ele ganhar a terceira medalha no Rio, será o primeiro esportista da história do País a ter ido ao pódio três vezes em uma mesma Olimpíada. Os recordistas em total de medalhas são os velejadores Robert Scheidt e Torben Grael, com cinco cada. Aos 22 anos, Isaquias terá provavelmente mais duas Olimpíadas pela frente. É de se imaginar, portanto, que ele os supere. Se isso acontecer, o garoto de Ubaitaba terá escrito um dos capítulos mais surpreendentes do esporte.

Isaquias Queiroz
22 anos
Canoagem de Velocidade

Medalhas olímpicas*

Rio-2016
Prata – C-1 1000 m
Bronze – C-1 200 m

Mundiais

Milão- 2015
Ouro – C-2 1000 m
Bronze – C-1 200 m

Moscou-2014
Ouro – C-1 500 m
Bronze – C-1 200 m

Duisburg-2013
Ouro – C-1 500 m
Bronze – C-1 1000 m

Pan-Americanos

Toronto-2015
Ouro – C-1 1000 m
Ouro – C-1 200 m
Prata – C-2 100 m

*Após o fechamento desta edição, Isaquias ainda disputaria a categoria C-2 1000 m, com boas chances de medalha