21/10/2016 - 18:00
O clima de pânico no meio político deflagrado pela prisão do ex-deputado Eduardo Cunha levou parlamentares tucanos a fazer contas. O cálculo é sofisticado, mas não é impossível. Caso o governo Temer seja alvejado a ponto de não parar de pé, eles enxergam ao menos duas saídas jurídicas para a substituição presidencial: se for depois de dezembro, as ações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) podem levar à cassação da chapa Dilma/Temer e, assim, o Congresso faz eleição indireta. Até aí, ok. Mas contam com a intrigante possibilidade de o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki (foto) levar a plenário ações que questionam a validade do impeachment. Com o processo anulado, a petista voltaria ao poder, abriria mão do mandato e convocaria novas eleições.
E se…
Apesar de remota, a hipótese de Dilma voltar para convocar novas eleições poderia ter respaldo na sociedade. Não porque o governo da petista faça falta para alguém. Mas para tirar das mãos do combalido Congresso Nacional, que não desfruta hoje de muita confiança pública, a decisão de escolher quem seria o próximo presidente do Brasil.
Sem sinal
Empresários que movimentam o PIB do Brasil também estão apreensivos com a prisão de Eduardo Cunha e o que ele pode vir a contar em uma eventual acordo de delação premiada. Porém, ao menos agora o telefone pessoal dos milionários vai parar de receber insistentes pedidos para encontro com Cunha. Melhor para declinar.
Bem preso
Se Luís Cláudio, filho de Lula, quiser recuperar seus bens levados pelos investigadores da operação Zelotes vai ter que melhorar a defesa. Na última semana, a 6ª Turma do STJ negou, por unanimidade, pedido para restituir material apreendido de sua empresa, a LFT Marketing Esportivo, suspeita de receber pagamentos de um lobista. O fundamento foi processual: os advogados entraram com um tipo de ação inadequado.
Rápidas
* Um cidadão telefonou ao Ministério Público Federal para consulta inusitada: queria comprar a fazenda Gama, que era do grupo de Carlinhos Cachoeira. Mas precisava saber se havia pendência jurídica. O atendente mandou ligar na Terracap, que gere as terras no DF.
* Considerado um dos mais inteligentes a passar pela Câmara nos últimos tempos, faltou pensamento rápido para Cunha. A PF bateu à porta da casa de sua casa no Rio e foi recebida por sua mulher, Cláudia Cruz.
* Cláudia alertou o marido e advogados que a PF o procurava. Um dos defensores recomendou que Cunha se entregasse na sede da PF em Brasília. Ele respondeu com um “vou pensar”. Mas “Hipster da Federal” o chegou logo.
* E Eduardo Cunha agora não tem mais assessoria de comunicação. Qualquer informação à imprensa será por meio dos advogados. E não se trata de medida de contenção de gastos. Afinal, Cláudia Cruz é jornalista.
Retrato falado
“Precisamos voltar a ter credibilidade e uma presença positiva no cenário internacional”
Após a rodada de viagens internacionais, a entidade que representam os industriais comemorou resultados. Robson Braga de Andrade, da Confederação Nacional da Indústria, antecipou alguns pontos: acordo com a Argentina para eliminar o uso do papel no comércio exterior entre os dos países. Na Índia, o primeiro pacto de investimento com um país asiático. E no Japão, foi concluído um trato para estimular o capital japonês a investir em infraestrutura no Brasil.
Toma lá dá cá
RODRIGO MAIA (DEM-RJ), PRESIDENTE DA CÂMARA
Dizem que o senhor atua mais como líder do governo do que presidente da Casa.
Quando fui candidato, disse que a agenda econômica do governo, com PEC do Teto e Previdência, era vital e prioritária. Nunca enganei ninguém. A crise no Brasil é tão profunda que neste momento nós temos de construir as bases para a recuperação econômica. Também votei a favor da agenda do Joaquim Levy, porque acredito nessa agenda mais ortodoxa.
O que o sr. achou de o Centrão falar em sucessão da Câmara enquanto se vota a PEC?
Sem a pauta econômica avançar, o Brasil chegará com muita dificuldade a fevereiro. Respeito quem está discutindo, mas acho que o momento adequado não é agora, essa não é minha pauta.
Caso de saúde
Quando o juiz obriga agentes públicos ou privados a prestarem um serviço de saúde, a conta acaba saindo, em média, quatro vezes mais cara do que quando o mesmo atendimento é prestado pelo SUS ou pelo plano de saúde sem batalha judicial. A informação é do desembargador Martin Schulze, do Rio Grande do Sul, palestrante do 19º Congresso UNIDAS. Segundo ele, os valores são maiores porque envolvem custos advocatícios e pela falta de estratégia e prazo para fazer compras em grande escala, o que poderia gerar descontos. A judicialização vai desde pedidos de medicamentos até tratamentos de alto custo.
Alvará
De cinco empresas que prestaram serviços à campanha de Dilma Rousseff e são investigadas pelo TSE, a Secretaria da Fazenda de SP concluiu que duas não são de fachada: Francisco Carlos de Souza Eirelli e Marte Ind. e Comércio. As outras, ainda estão sob investigação. Dilma não comemorou.
Veja bem…
Após Michel Temer e José Serra falarem com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o ministro entregou aos russos carta explicando a situação do professor brasileiro Eduardo Chianca, preso em Moscou por tráfico de drogas ao transportar chá de ayahuasca. Informa que ele é pesquisador reconhecido internacionalmente pela Terapia Frequências de Luz.
…é cultural
O documento explica que Chianca daria palestras na Rússia, Ucrânia, Suíça, Holanda e Espanha e que portava o chá por fazer parte de sua terapia e rituais. No Brasil não é crime. Destacou ainda que a família contratou advogados no país e pleiteia ao menos prisão domiciliar até que aconteça o julgamento. Por ora, os russos não se sensibilizaram.
Mistério e semelhança
Dia desses, Serra despachava com Temer no Planalto quando deu falta de seus óculos, sem os quais não lê. Presidente, ministro e assessores reviraram tudo no gabinete, em outras salas e nada. O objeto foi encontrado no bolso de Temer. Antes, em viagem ao Paraguai, Serra quem embolsara as lentes do chefe.
Fotos: Jose Patricio/Estadão; Jose Cruz; Valter Campanato/Agência Brasil;