Aos poucos, o presidente Donald Trump vai conseguindo tudo o que quer. Sua agenda protecionista já afeta todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos, hoje obrigados a fazer concessões para manter seus negócios com a maior economia do planeta. No domingo 30, Trump conseguiu acabar com o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), criado em 1994, e estabeleceu um novo acordo com México e Canadá, batizado de USMCA, sigla que junta as iniciais dos três países. O foco de Trump é a redução do déficit comercial dos EUA, prioridade econômica de seu governo, com o objetivo de reerguer a indústria manufatureira, em especial a automobilística, promover o agronegócio e aumentar a oferta de empregos. Segundo o Departamento de Comércio, o déficit dos Estados Unidos no ano passado cresceu 12,1% e alcançou US$ 566 bilhões.

BARREIRAS TARIFÁRIAS

A renegociação para o fim do Nafta começou há seis meses e enfrentou vários obstáculos. Desde maio, quando Trump decidiu sobretaxar o aço e o alumínio canadense, os dois países estavam às turras. Em retaliação à iniciativa do presidente americano, o Canadá sobretaxou US$ 16,6 bilhões em bens importados do vizinho. Em agosto, Estados Unidos e México assinaram um acordo preliminar que só foi ratificado na semana passada. O USMCA é mais restritivo do que o Nafta e limita a lista de produtos que são comercializados livremente entre os três países. Na prática, aumenta a competitividade dos produtos americanos e representa uma vitória de Trump. Para fechar o acordo, o Canadá abriu, por exemplo, seu mercado para os produtores americanos de leite e de laticínios. No ano passado, o México teve um superávit comercial com os Estados Unidos de US$ 71 bilhões. Pelo acordo, esse valor deverá cair.

“Os Estados Unidos estão buscando reformular toda sua estratégia de comércio internacional”, diz Otto Nogami, professor de Finanças do Insper. “Trump quer atrair as indústrias manufatureiras e transformar os EUA numa nação exportadora”, afirma. Para isso, os EUA estão modificando suas relações comerciais no sentido de favorecer tanto sua produção agrícola quanto a industrial. O presidente eleito do México, Andrés Manuel López Obrador, que assume em janeiro de 2019, saudou o acordo e disse que ele permite que se aumentem os salários dos trabalhadores da indústria automobilística, garante os direitos soberanos do México sobre petróleo e eletricidade e cria boas condições para o crescimento do investimento e do emprego no médio e longo prazo. “Considero o acordo benéfico para os três povos, as três nações e os três governos”, disse Obrador. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, depois da assinatura do acordo, declarou que “é um bom dia para o Canadá”. Trudeau disse que “o USMCA modernizará e estabilizará a economia local para o século 21, garantindo um padrão de vida mais alto para os canadenses a longo prazo.”

Vantagens para os EUA

US$ 1,2 trilhão é o volume de transações entre EUA, Canadá e México
500 milhões é a população somada dos três países do bloco norte-americano


COMÉRCIO COM O BRASIL

Trump aproveitou o anúncio do novo acordo na América do Norte para fazer críticas ao Brasil, pais que tem a maior alíquota de importação de bens de capital. “O Brasil é outro caso. É uma beleza. Eles cobram de nós o que querem. Se você perguntar a algumas empresas, elas dizem que o Brasil está entre os mais duros do mundo, talvez o mais duro”, disse Trump. “E nós não os chamamos e dizemos: ei, vocês estão tratando nossas empresas injustamente, tratando nosso país injustamente”, completou. Trump reclama de barriga cheia. Diferentemente do que acontece com o México, o Brasil está numa situação desfavorável na balança comercial. No ano passado, o Brasil teve um superávit de US$ 2,06 bilhões com os Estados Unidos, com exportações de US$ 26,8 bilhões e importações de US$ 24,8 bilhões. Mas nos últimos dez anos o déficit do Brasil com os Estados Unidos é persistente e soma US$ 90 bilhões. Pela lógica de Trump o que resta ao Brasil esperar agora são propostas que aumentem ainda mais essa desvantagem comercial.

O imperador da América
©Barton Silverman