Jair Bolsonaro não desiste da hidroxicloroquina. A droga virou uma obsessão, um símbolo da ignorância e do negacionismo do governo, a marca registrada de uma gestão estapafúrdia da pandemia e da falta de apreço pela vida humana. Em uma nota técnica publicada na última sexta-feira, o Ministério da Saúde rejeitou diretrizes de tratamento do SUS e mais uma vez contrariou a lógica e todas as evidências científicas para referendar os falsos benefícios terapêuticos do medicamento contra a Covid-19 e questionar o uso da vacina. É um esforço claro para achincalhar o bom senso e se opor à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que tem atuado com correção, repelido os ataques anticiência do governo, criticado o uso de remédios ineficazes, além de estimular sabiamente a campanha de imunização.

Quem assinou a nota foi o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Helio Angotti Neto, discípulo de Olavo de Carvalho e totalmente afinado com as teses negacionistas que Bolsonaro quer promover. Angotti é um nome que Bolsonaro gostaria de ver na diretoria da Anvisa para enfrentar o contra-almirante Antonio Barra Torres, que segue a orientação técnica que o cargo exige e tem despertado a ira do presidente. Bolsonaro não se conforma com a independência da agência e o Ministério da Saúde reflete esse inconformismo ao manter a recomendação do uso dos remédios do kit-Covid contra a orientação do SUS. Sob a ótica de um governo autoritário, agências reguladoras são um estorvo de racionalidade no esforços permanente de criar confusão e promover teses diversionistas.

Chama atenção também a impassibilidade do ministro Marcelo Queiroga , que abriu mão do Juramento de Hipócrates e de qualquer compromisso ético com a medicina e acolhe no seu arsenal de idéias distorcidas a defesa da cloroquina e de outros remédios inúteis, avalizando a nota de Angotti Neto e fazendo vista grossa para as loucuras do presidente. Nessa altura da pandemia, ignorando recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e as conclusões de estudos feitos em vários países, o governo ainda insiste na sua pregação curandeira. E sempre que tem oportunidade dá um jeito de desacreditar a vacina. A imbecilidade parece realmente não ter fim.