01/08/2017 - 7:30
Ensaios diversificados, mas com temas recorrentes e eixos estruturantes. Eixos como inserção das coisas em perspectiva histórica, busca de origens, ampliação de referências, conceituações mais claras e combate a preconceitos ou posições unilaterais. Esta fórmula, Leandro Karnal explica, é de Montaigne – mas é nela que o historiador se apoiou na hora de organizar seu novo livro Diálogo de Culturas.
A obra, que ele lança nesta terça-feira, 1, às 19h30, no Sesc Vila Mariana (Rua Pelotas, 114), em debate com Ubiratan Brasil, editor do Caderno 2, traz 54 textos publicadas no jornal “O Estado de S. Paulo” desde 24 de julho de 2016, quando Karnal se tornou cronista do jornal – primeiro, aos domingos e, depois, aos domingos e às quartas. O desafio é “escrever algo relevante que marque um debate, ilumine uma postura, sirva de fonte para um debate e, mesmo usando histórias cotidianas ou pessoais, possa ser universalizado e apropriado pelo leitor”.
O historiador conta que aprende muito com o exercício da crônica. “Coisas muito simples, ditas com o megafone do jornal e da internet, ganham uma luz imensa, excessiva até. E o primeiro problema é com o excesso de interpretação.” Ele tem se surpreendido com a sensibilidade sobre temas subjetivos e irrelevantes. “Hoje eu tenho a consciência de que aquilo que escrevo e publico deixa de ser meu, inclusive para o rumo interpretativo que cada pessoa confere ao que lê.”
E com relação a isso, Karnal aprendeu, também, que é amado, odiado e provoca indiferença pela mesma frase. “Para algumas pessoas eu serei petralha ou coxinha, ateu irritante ou estudioso das religiões dedicado, fascista ou comunista exatamente pela mesma frase”, explica.
Publicada em 28 de agosto de 2016, Porque era ele, porque era eu foi a crônica escolhida por Leandro Karnal para abrir o livro. Uma crônica sobre amizade escrita num momento em que a polarização política afastava amigos de longa data. Na sequência, vem um texto sobre violência.
Ele explica a escolha. “A crônica sobre amizade trata de um tema essencial e cotidiano e foi a de maior retorno de pessoas comentando. Achei que essa crônica era uma maneira de ilustrar um dos eixos definidores das nossas biografias: as relações afetivas que elegemos fora do círculo familiar. O reverso das afinidades eletivas do afeto é a estrutura da violência e do ódio. São duas facetas do mesmo ser humano. Um dos objetivos do meu esforço é tratar das facetas do humano além dos fatos pequenos e superficiais do cotidiano. Assim, o ódio complementa o retrato complexo do nosso comportamento.”
Na crônica As rondas ostensivas da patrulha ideológica, Karnal escreve: “Pensar é complexo. Necessita esforço constante e direcionamento com foco”. Ele conta que o que faz, com seus textos, é tentar ajudar o leitor nessa tarefa. “Continuo achando que pensar é complexo e um desafio contra o senso comum. E continuo me considerando um professor, alguém que busca ser a ponte entre a ideia e o público. Minha maior alegria é quando alguém me diz que, graças a meu texto, buscou ler um autor. Quando isso ocorre, cumpri minha missão.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.