Certamente não havia alguém mais feliz do que ele na Esplanada dos Ministérios. No Rolls-Royce conversível, acenando para o público, o sorriso aberto parecia eternizado em sua face. O percurso foi curto, mas representou um longo caminho, uma jornada de redenção, uma volta por cima que pouca gente poderia prever. Depois do maior revés de sua carreira política, estava ali para subir a rampa e ficar no poder por quatro anos. Ficou a impressão de que nada poderia abalar o sorridente Geraldo Alckmin.

Lula foi o centro das atenções, claro, mas mesmo quando sua ação política estava restrita a uma cela em Curitiba, muitos ainda imaginavam que um dia ele poderia retornar à Brasília, mais uma vez eleito presidente. Agora, o que dizer de Alckmin? Depois de ser o político que por mais tempo governou São Paulo, um total de 14 anos não consecutivos, ele teve um desempenho desastroso na campanha presidencial de 2018, ficando em quarto lugar com 4,76% dos votos, o pior resultado de um candidato do PSDB à Presidência. Ele se desvinculou do partido em dezembro do ano passado, sentindo-se traído por muitos colegas, incluindo seu apadrinhado político João Doria, numa importante baixa no quadro do PSDB que enfraquecia cada dia mais. Márcio França, que foi seu vice no último período como governador de São Paulo, o convenceu a ir para o PSB e ser vice de Lula na corrida ao Planalto. O que se viu na última eleição foi Alckmin voltando ao topo da política nacional, enquanto o PSDB se transforma em um partido morto-vivo.

Essa reviravolta explica o sorriso grudado no rosto de Alckmin neste dia de posse presidencial. É difícil saber exatamente o quanto a sua presença na chapa trouxe para Lula mais votos de eleitores de centro e até de uma direita, digamos, mais moderada. Alckmin não parece preocupado com isso. Uma vez vencida a eleição, tratou de arregaçar as mangas e comandar o processo de transição de governo. Na divisão dos 37 ministérios, coube a ele acumular a pasta da Indústria e Comércio. Assim, ele conseguiu em apenas dois meses se afastar da figura de um vice decorativo, condição que já prejudicou alguns bons nomes da política nacional nas últimas décadas.

Nas redes, a nada pequena facção dos internautas maldosos já começa a publicar observações sobre o estado de saúde de Lula, que tem sob observação uma condição oncológica. Muitos posts já falam sem rodeios sobre a hipótese de Lula precisar se afastar do cargo e a Presidência da República cair no colo de Alckmin, uma especulação cruel e um pouco sem cabimento, mas é o que algumas pessoas pensam. Seja de que modo for, se um dia Alckmin acabar indo morar no Alvorada, aí sim nada vai conseguir tirar um sorriso eterno do seu rosto.