ais uma investigação é interrompida por ter chegado muito perto do presidente Bolsonaro. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) averiguava, por meio de grampos telefônicos, comparsas do chefe das milícias cariocas, Adriano da Nóbrega. Era um caminho para chegar aos malfeitos do ex-capitão do Bope depois que ele foi assassinado. Ao que tudo indica as diligências acabaram encontrarando um protagonista bem mais interessante do que Adriano. As transcrições dos áudios revelam a referência dos bandidos a um sujeito identificado como: “Jair”, “HNI (presidente)” e “o cara da casa de vidro”. Os três codinomes podem pertencer a mesma pessoa: Bolsonaro. A “casa de vidro” seria o Palácio do Planalto ou o Paláciodo Alvorada, ambas cercadas por vidros em suas fachadas. O bom trabalho realizado pelo MP-RJ foi punido com a interrupção das buscas: por força de lei, o presidente da República não pode ser investigado por um órgão estadual.

MILÍCIA Adriano de Nóbrega e a esposa Julia Lotufo (Crédito:Divulgação)

Codinomes

A informação mais impactante dá conta de que Ronaldo Cesar, apelidado por “Grande”, disse que ligaria para o “cara da casa de vidro” em 9 de fevereiro de 2020, logo após a morte de Adriano. A proximidade entre o chefe da milícia e o clã bolsonarista é conhecida. Em 2005, quando era deputado estadual, Flávio concedeu a Medalha Tiradentes ao policial. O filho 01 de Bolsonaro também empregou no seu gabinete nada menos do que a ex-mulher e a mãe do miliciano. Há a suspeita de que Adriano e Fabrício Queiroz eram os sócios que operavam as “rachadinhas” para Flávio. O presidente também pode estar envolvido no esquema das rachadinhas. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello encaminhou notícia-crime contra Bolsonaro por conta dos depósitos feitos por Queiroz à primeira-dama, Michelle. Queiroz está solto por decisão do Superior Tribunal de Justiça. O STJ, aliás, tem sido bem complacente com bolsonaristas. O tribunal paralisou o processo contra Flávio e, mais recentemente, mandou a viúva de Adriano, Julia Lotufo, para o regime de prisão domiciliar.

Em Brasília, há uma cautela para se tratar do tema. Parlamentares preferem não comentar as investigações publicamente. Em off, porém, é comum ouvir que uma apuração séria e levada até as últimas consequências chegaria ao presidente e o ligaria ao Escritório do Crime, nome dado a organização chefiada por Adriano. O deputado David Miranda (PSOL-RJ) foi um dos poucos que se manifestaram. Ele questiona “quem é o cara da casa de vidro” e fez uma representação à Procuradoria-Geral da República (PGR) para saber se há ligação entre Bolsonaro e a milícia do Rio de Janeiro. Outro parlamentar que se pronunciou foi o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Ele diz que a família Bolsonaro sempre esteve ligada ao miliciano Adriano da Nóbrega. “Crime, política e polícia: é desse esgoto que corre no RJ que vem a família”, tuitou o deputado. A proximidade entre Bolsonaro e o crime organizado é assustadora. Segundo os parlamentares, se as novas gravações forem comprovadas, seria mais uma prova contra o presidente, que nos últimos tempos anda acuado por denúncias.