A melodia suave e a letra com temática banal são as principais características de uma música chiclete. Todos os anos, principalmente no verão, uma delas desponta entre milhares de lançamentos musicais, gruda nos ouvidos dos brasileiros e não sai das caixas de som de carros e das barracas de praia. Já tivemos “Lepo, Lepo”, “Olha o Gás”, “Vai Maladra”, “Que Tiro Foi Esse”, “Ai Se Eu Te Pego” e muitas outras. O refrão que promete deliciar alguns e importunar outros neste verão é o que declara: “O nome dela é Jenifer/ conheci ela no Tinder/ e não é minha namorada/ mas poderia ser.”

Com mais de 64 milhões de visualizações no Youtube, “Jenifer” saltou de quarto para primeiro lugar entre as músicas mais escutadas no país na última semana. O artista possui cerca de 3,5 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Segundo ele, Jenifer nunca existiu, mas é como se fosse a sua “galinha dos ovos dourados”. “Eu a adoro, atualmente ela está me bancando”, diz o cantor animado.

Começou na garagem
Gabriel faz em média 20 shows e fatura cerca de 2,5 milhões de reais por mês. Nada mal para um jovem de 28 anos nascido em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e que tem apenas oito de carreira. Ele tentou se formar em engenharia civil, mas largou a faculdade no quarto semestre. Gabriel participou de alguns grupos musicais — um deles, com amigos da escola, tinha o nome óbvio de “Banda de Garagem” —, mas foi apenas em 2011 que ele se encontrou como cantor solo.

Bastante conhecido no nordeste do país, seus maiores sucessos são recentes e com parcerias famosas, como “Acabou, acabou”, com Wesley Safadão, “Paraquedas”, com Jorge e Mateus, “É hora de dar tchau”, com Gustavo Lima, e “A Casa Chora”, com Maiara e Maraísa. Ele classifica Jenifer, seu single mais recente, como uma mistura de axé, pop, sertanejo e forró. “É o estilo GD: ousado e diferente”, diz Gabriel, que admite ser um usuário entusiasmado do aplicativo de namoro citado no refrão. “Eu uso o Tinder. Mas ele é um aplicativo para transar. Bateu o match (quando duas pessoas se curtem mutuamente), é transa. Tenho umas amigas, sabe como é?”

Ele revela ainda que o personagem Jenifer, representada pela atriz Mariana Xavier no videoclipe, é, na verdade, um símbolo do lado feminino que todo homem tem guardado dentro de si. “Todo mundo tem um lado feminino. A Jenifer é aquela mulher que tira onda, brinca, toma uma, vai para a praia, bate frescobol, joga bola. Tem que libertar a sua Jenifer. Eu libertei a minha até demais”, diz Gabriel.

Não faltam candidatas a hit do verão para concorrer com “Jenifer”. Rick Bonadio, produtor musical e proprietário de um dos maiores estúdios de música do País, aposta também nas baladas eletrônicas feitas por Dennis DJ, entre as quais a recém-lançada “Agora é tudo meu”, em parceria com o funkeiro MC Kevinho. Mas a verdadeira tendência para o verão de 2019, segundo Bonadio, é outra. “Este ano está acontecendo algo diferente, nós não temos um único sucesso do verão. As pessoas estão escutando músicas que foram lançadas ao longo do ano passado”.

“Jenifer” segue a receita do que se costuma chamar, em inglês, de earworm (“minhoca de ouvido” em tradução literal), aquele tipo de música que entra no ouvido e fica lá, provocando aquela coceirinha, sem que se consiga se livrar dela. “A música precisa ter uma letra e uma sacada muito legal. Precisa ter poucos versos antes do refrão e este tem que ser simples, objetivo. As pessoas precisam se identificar com a brincadeira e, claro, a melodia precisa ser grudenta — e essa da ‘Jenifer’ é grudenta pra caramba”, atesta Bonadio. Quem resiste a versos que rimam Jenifer com Tinder?