Tuca Casparian beira os setenta anos.

Empresária, inteligente, formada pela FGV.

Acorda cedo todos os dias, por volta das cinco da manhã.

Ainda na cama, quentinha sob as cobertas, recebe a moça da cozinha trazendo o seu café.

“Uma mulatinha muito do bem. Está comigo há anos!”

Escreveu no grupo fechado de socialites do Face.

O primeiro gole no café sem leite (descobriu que é intolerante em 2018) é o começo do dia.

Entre um mamão e uma torradinha, Tuca agarra seu iPhone e checa todas as redes sociais.

Faz como o pai, que lia dois jornais, também tomando café da manhã na cama.

“As redes sociais são os novos jornais! Tem que se informar para dar opinião.”

Ela disse na piscina do clube quando foi acusada de não sair do celular.

E lembrou como o pai era metódico na leitura das sessões do jornal.

Começava pela capa, claro, depois as cartas dos leitores, Cultura, Esportes, Internacional, Local, Palavras Cruzadas, deixando para o fim o mais suculento: Política e o Editorial.

Tuca faz a mesma coisa com as redes sociais: guarda o melhor para o final.

Democracia funciona como o pessoal do aplicativo: cada um com sua própria opinião

Começa pelo Facebook, que é onde sabe que vai ter menos surpresas.

“No Face não tem as mentiras do DataFolha, nem as palhaçadas da Rede Globo”.

Ela disse isso numa entrevista que deu para um portal de moda.

Tuca herdou a fábrica de relógios de ponto do pai – hoje toda digital – então precisa estar sempre ligada na política.

Do Facebook, pula para o Twitter ambiente em que não escreve, apenas lê.

Adora os posts dos filhos do presidente, principalmente agora, em tempos de eleição.

“Morro de rir deles provocando o presidiário!”

Disse num almoço com amigas que acham o Twitter muito complicado.

Quando Lula era presidente tirou uma foto com ele que ainda está no seu escritório.

“Quando vem alguém falar comigo, é importante que saibam que eu sou uma democrata. Além disso, vai que, né?”

Ela diz, rindo, para seu diretor financeiro (e ex-marido), que acha a foto uma vergonha.

Do Twitter ela pula para o Instagram para dar uma pausa e conferir os stories das amigas, mas já sabe que vai se irritar com algumas que são umas desocupadas, sempre viajando ou postando futilidades.

Antes de sair do aplicativo, dá uma conferida nas curtidas e comentários da véspera.

Seu sonho é ter uma conta que nem a da Coca Setubal, que é verificada provavelmente por causa do sobrenome.

Então chega a hora da melhor das redes, que ela sempre faz coincidir com o croissant. O WhatsApp.

Começa repassando as mensagens de trabalho ou de amigas e guarda para o final o “Green and Yellow”, grupo formado por uns quinze empresários amigos que, como ela, querem um Brasil melhor.

Naquela manhã de quarta-feira, o grupo tinha setenta e quatro mensagens não lidas. Sinal que alguma coisa importante tinha acontecido. E tinha mesmo.

Alguém havia vazado para a imprensa uma conversa que tiveram na véspera.

Tuca colocou a bandeja do café de lado e se ajeitou na cama, enquanto mentalmente tentava lembrar da conversa recente.

A conversa estava no Estadão e no Globo.

Tuca ficou desesperada. Reviu as mensagens vazadas rapidamente. Falavam sobre como seria bom se o Exército assumisse de vez.

Graças a Deus, ela não tinha participado, porque ontem estava em trânsito.

Pensa Tuca! Pensa! Falava para si mesmo.

Num repente, procurou no celular a foto abraçada com o Lula e postou no Instagram, com a legenda: “Democracia é assim: tem espaço para todos.”.

“Postei porque vai que, né?”

Explicou para o personal que achou que tinham hackeado o iPhone dela.

Tuca é assim. Sempre lidou bem com crises, que nem o pai.