‘O governo poderia ter se esforçado mais’, diz Erika Hilton sobre PEC 6×1

Em entrevista à IstoÉ, deputada vê chances do projeto avançar no segundo semestre na Câmara, mas aponta a necessidade de diálogo do Planalto e avalia “combo completo” para as eleições do próximo ano

Erika Hilton impeachment
Deputado federal Erika Hilton (PSOL-SP), em entrevista à ISTOÉ Foto: Katê Takai/ISTOÉ

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) alfinetou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e disse não ter visto esforço do Palácio do Planalto no avanço da PEC 6×1 na Câmara dos Deputados. Para ela, o governo teve o interesse no tema, mas poderia ter negociado para emplacar o projeto ainda durante o primeiro semestre deste ano.

O projeto, anunciado no fim do ano passado, prevê a redução da jornada de trabalho de seis para quatro dias na semana. Entretanto, a própria deputada admitiu nos bastidores, na ocasião, que tinha colocado uma “gordura” no texto para reduzir para cinco dias a jornada de trabalho.

+ Erika Hilton pede impeachment de Tarcísio por tarifaço: ‘Ultrapassa limites’

Confira a entrevista na íntegra:

A repercussão do projeto brilhou os olhos do Planalto, que viu a chance de aumentar a popularidade de Lula. Inicialmente, o Planalto se engajou e até chegou a colocar entre as prioridades do ano, mas a reforma do Imposto de Renda e outros projetos de arrecadação ficaram à frente no primeiro semestre deste ano.

Erika afirmou que deve se reunir com a ministra da articulação política, Gleisi Hoffmann, e com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para tentar destravar o projeto nas próximas semanas. Ela avalia que a PEC deve ser aprovada pela comissão especial ainda neste ano, mas que acha difícil o texto passar pelo plenário até dezembro.

“O que me faz acreditar [que vai avançar] é o empenho do governo nesta pauta. Talvez mostrou mais interesse e menos empenho, poderia ter se empenhado um pouco mais. Eu não sei o que falta para o governo colocar a pauta neste ano. Talvez ela fosse melhor respondida pelo Palácio do Planalto. Eu não sei o que o governo está pensando, as dificuldades, enfim, não vejo a força para destravar a proposta dentro da casa”, afirmou, em entrevista à IstoÉ.

“Tem sido difícil, porque a urgência muda a cada minuto, mas vejo possibilidade do texto ser destravado. Tenho trabalhado para que haja um despacho na CCJ e o presidente da comissão já me garantiu que vai pautar quando chegar lá para criar a comissão especial. Temos condição de fazer o texto tramitar, só não sei se teremos condições de votar o primeiro turno da PEC ainda neste ano”, completou, ressaltando que o xadrez político pode atrapalhar ou agilizar o avanço da medida.

Além da PEC, o PT entrou com um projeto de lei para tentar aprovar o texto com a maioria simples e sem precisar passar por dois turnos na Casa. Erika afirmou que não vê problemas com a alternativa e que apoia o texto caso a medida avance no Congresso.

Para ela, o projeto é um “combo completo” para a reeleição de Lula em 2026 e afirma ver necessidade do governo embarcar em definitivo no tema.

“Mas acho que é uma pauta muito importante, inclusive, para a reeleição do presidente Lula, pois ela fortalece o debate sobre o olhar da classe trabalhadora e traz mais dignidade às pessoas. Entra como um combo positivo com a isenção do Imposto de Renda para quem ganhar até R$ 5 mil”, ressaltou.

Mesmo com a repercussão positiva do projeto nas redes sociais e com a defesa de uma parcela do Centrão, deputados da direita e da centro-direita criticaram a medida após a pressão sofrida de entidades empresariais e hospitalares. Associações afirmam que a redução da carga horária de trabalho prejudica os atendimentos médicos e deve impactar significativamente a economia. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), por exemplo, afirma que a redução da jornada pode aumentar os custos operacionais das empresas e levar a dificuldades em manter a operação em alguns setores, como o comércio.

Erika Hilton minimizou as críticas e vê dificuldades para os deputados da oposição entrarem em rota de colisão com os trabalhadores. Ela acusa que a alternativa encontrada pelos parlamentares para enfraquecer o projeto é usar o nome dela para ataques nas redes sociais.

“Eles são contra nos bastidores, mas acho difícil eles encararem o eleitor caso votem contra o projeto. E para um deputado assumir que é contra o projeto, subir na tribuna e criticar a proposta, é uma coisa muito constrangedora”.

“E como eles fazem para tentar enfraquecer? Atacam a criadora da proposta. Tentam destruir a pessoa e tentam colocar meu nome em polêmicas porque eles têm o desejo de que a proposta morra, que ela mingue”, reforçou.

‘O governo poderia ter se esforçado mais’, diz Erika Hilton sobre PEC 6x1

Deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), em entrevista à ISTOÉ

Leia a entrevista completa com Erika Hilton

A reciprocidade pode ser a solução para reduzir o tarifaço? A articulação do governo e da oposição não prejudica as negociações diplomáticas?

Eu não sei se irá prejudicar, mas sei que temos uma oposição que trabalha arduamente contra o Brasil. É uma oposição que trabalha para colocar os interesses de uma família à frente dos interesses da nação e nós – o governo – precisa se proteger dessa gente que vão para outro país negociar sanções contra o povo brasileiro. 

O governo se mostrou aberto ao diálogo em todos os instantes. Penso que a lei de reciprocidade é um caminho para frear os tentos de Trump e defender a nossa soberania. É um mecanismo institucional para nos proteger daquilo que está sendo feito por Eduardo Bolsonaro, Donald Trump e toda uma ala de opositores do partido do Jair Bolsonaro para prejudicar o Brasil. 

Me parece que não há espírito de negociações. Há espírito de chantagem, de ameaça, com o Judiciário, contra o Brasil e contra o povo brasileiro. É um golpismo, um ataque, uma tentativa de fazer com que a gente se torne uma “República das Bananas”, o que nunca vamos ser. O presidente Lula tem conduzido essa discussão da forma mais diplomática possível, mas me parece que eles [Estados Unidos] não estão interessados na diplomacia.

Por que o Congresso foi tão tímido na reação ao tarifaço, diferente de outras pautas polêmicas? A nota dos presidentes da Câmara e Senado não mostra omissão?

Eu não digo calado, mas tímido talvez. Me mostra que o Congresso não tomou a posição e não debateu essa questão como deveria. Eu acho que o Congresso estava em uma posição delicada com a campanha do “inimigo do povo” e do “nós contra eles”, vinha sofrendo uma pressão muito grande após a derrubada do decreto do IOF, o aumento do número de deputados, o projeto da devastação… O Congresso vem passando por uma série de projetos impopulares e me parece que não quiseram comprar mais um desgaste com determinada ala que, queira ou não, é forte no Legislativo. 

Agora, eu não sei até que ponto o Congresso vai continuar podendo se manter tão tímido. Não vou dizer que está calado, mas é dúbio, meio paradoxal. Me parece insustentável a longo prazo, porque se as medidas se perpetuar nós vamos ter um colapso no nosso país, que vai precisar de uma resposta do Legislativo. 

A campanha “nós contra eles” do governo não aumenta a polarização e prejudica a relação com o Congresso, especialmente com aliados como Davi Alcolumbre?

Eu fico me perguntando se essa narrativa do “nós contra eles” só ganha preocupação quando é o inverso, porque quando são eles contra nós está tudo bem. Eles sempre votam contra os direitos das minorias, para prejudicar a vida dos mais pobres, usando da política para benefício próprio e nunca houve uma [crítica de] eles contra nós. Quando somos nós, vira um problema, que vai destruir o Brasil, que vai dividir. 

Nós, enquanto esquerda e o próprio governo, passamos muito tempo na defensiva, se defendendo das narrativas, dos ataques, das fake news, que foram produzidas pela oposição. Houve um momento de atacar e uma oportunidade de colocar para a sociedade qual é o comportamento do Congresso Nacional, de denunciar as votações para prejudicar o povo, favorecendo empresários, fazendeiros, pastores. 

Quando somos nós, acham que vai dividir o Brasil. O Brasil já foi dividido e não fomos nós. O Brasil foi dividido em 2016, naqueles movimentos para tentar destruir o governo da presidenta Dilma. Veio o golpe da Dilma, a prisão do presidente Lula, depois Michel Temer, Jair Bolsonaro, a tentativa de golpe do 8 de janeiro. [Eles] sempre estão com pautas ideológicas prejudicando a vida das pessoas. Não vemos eles usando seus mandatos para votar o projeto da escala 6×1, por exemplo, ou garantir o aumento de vagas para pessoas negras. Nós resolvemos denunciar isso e estão nos tratando como se estivéssemos organizando uma guerra. Eu não concordo, acho que isso é uma conscientização importante para que tenhamos uma agenda forte. Parece que o Centrão se acostumou a ficar em uma redoma de vidro que não pode ser tocada e, de repente, eles foram notados e parecem não ter gostado. 

As polêmicas sobre seus assessores e a bolsa cara não dão munição para a oposição no atual Congresso conservador? Isso não desgasta a esquerda antes de 2026?

Eu não tenho como controlar narrativas a meu respeito. Acusar meus assessores de serem maquiadores é uma tentativa de desmoralizar todo o trabalho que a minha equipe vem realizando. A pessoa saber maquiar ou ter feito maquiagens em mim não é demérito. 

Eu tenho maquiadores, bordadeiras e outros que trabalham em meu gabinete e tem atribuições administrativas que são facilmente comprovadas. Estão comigo em comissões, nas articulações com lideranças e movimentos sociais. É uma narrativa para desmoralizar o meu trabalho porque estão preocupados e com medo da minha capacidade de fazer um bom trabalho. 

Eu fui atacada por ser boa, pela minha capilaridade, por eu aparecer em terceiro lugar em todos os cenários da pesquisa para o governo do Estado de São Paulo sem ter feito uma campanha. É porque tenho diálogo com pessoas e converso sobre diversos temas. 

Quanto mais pessoas iguais a mim estiverem atentas e próximas da política, mais esses deputados conservadores estarão distantes. A política vai se renovando.

Eu acho curioso, porque tenho bolsas e óculos caros, como se só eu fizesse essas coisas. Todo mundo tem seu trabalho, faz o que quer com o seu dinheiro. Eu compro minhas coisas de forma lícita. Eu nunca vi um deputado ser questionado por usar um Rolex ou uma deputada por usar uma bolsa da Chanel ou qualquer outra marca dentro da Câmara dos Deputados. Agora eu, uma deputada negra e transexual, preciso ser enquadrada num lugar que é meio fútil demais.

Eles usaram essas narrativas para tentar me desestabilizar, mas não conseguiram. Continuo forte, não mudei meu estilo, não escondi minhas bolsas, não tem o que esconder e nem escondi meus assessores. Eles continuam trabalhando no meu gabinete e continuarão até o momento que eu achar que não dá mais. 

Você acha que eu tenho esses seguidores nas redes sociais só porque sou a deputada que mais participa da Comissão de Constituição e Justiça? Não. Eu consigo reencantar as pessoas para a política. A extrema-direita encanta as pessoas para a política com narrativas de mentira, de pânico e caos. Eu faço com leveza, com a moda e me surpreende quando se assustam porque tenho itens de marca. Sempre admiti que gosto de moda e uso ela como uma ferramenta política. Nada mais natural que eu tivesse e sempre foram pagas com o dinheiro do meu salário. 

Não aumentei meus bens, não tenho propriedade, não tenho carro, casa própria. A minha declaração eleitoral poderá ser acompanhada. Não tenho fundos de investimento, mas tenho bolsas lindíssimas no meu armário, da qual me orgulho todos os dias de trabalhar e pagar por elas. 

Há chances reais do seu projeto sobre escala 6×1 avançar este ano, considerando o forte lobby empresarial contra?

Numa maior cara de pau, 70% dos deputados admitem ser contra um dos projetos mais fortes do povo brasileiro. Eu diria dos últimos tempos. É uma pauta em que a população se uniu em torno do tema. 

A conversa no começo do ano tinha um peso, mas o ano foi acontecendo e nós estamos vivendo o hoje. As manchetes políticas mudam muito rápido. O que é relevante agora, muda completamente em 20 minutos e muda todo o cenário do jogo político.

Começamos com dureza, até porque enfrentamos um lobby empresarial e dos deputados muito forte. Nós sabíamos disso quando iniciamos a articulação com o ministro Alexandre Padilha e agora com a ministra Gleisi [Hoffmann]. Eu estive com o presidente Lula, com o Arthur Lira e agora com o Hugo Motta e devo me reunir com eles novamente porque a cada hora a pauta vai ficando mais quente. 

O que me faz acreditar [que vai avançar] é o empenho do governo nesta pauta. Talvez mostrou mais interesse e menos empenho, poderia ter se empenhado um pouco mais. 

Mas acho que é uma pauta muito importante, inclusive, para a reeleição do presidente Lula, pois ela fortalece o debate sobre o olhar da classe trabalhadora e traz mais dignidade às pessoas. Entra como um combo positivo com a isenção do Imposto de Renda para quem ganhar até R$ 5 mil. 

Acho que são muitos fatos positivos para que o texto seja aprovado mesmo com o lobby dos deputados e do setor empresarial. Eles são contra nos bastidores, mas acho difícil eles encararem o eleitor caso votem contra o projeto. E para um deputado assumir que é contra o projeto, subir na tribuna e criticar a proposta, é uma coisa muito constrangedora. 

E como eles fazem para tentar enfraquecer? Atacam a criadora da proposta. Tentam destruir a pessoa e tentam colocar meu nome em polêmicas porque eles têm o desejo de que a proposta morra, que ela mingue. 

Tem sido difícil, porque a urgência muda a cada minuto, mas vejo possibilidade do texto ser destravado. Tenho trabalhado para que haja um despacho a CCJ e o presidente da comissão já me garantiu que vai pautar quando chegar lá para criar a comissão especial. A partir disso, quando for escolhido o relator, vamos conversar com os partidos e começar, de fato, a caminhar. 

O problema é que hoje o texto está travado na mesa da presidência e ainda não tem como discutir com os partidos a necessidade de cada um. Eu acho que o governo precisa entrar um pouco mais forte nessa articulação. Temos condição de fazer o texto tramitar, só não sei se teremos condições de votar o primeiro turno da PEC ainda neste ano. 

Erika Hilton

Deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), em entrevista à ISTOÉ

Por que o governo não assume definitivamente seu projeto de redução da jornada, já que há articulação com Lula e ministros?

Eu não sei o que falta para o governo colocar a pauta neste ano. Talvez ela fosse melhor respondida pelo Palácio do Planalto. Eu não sei o que o governo está pensando, as dificuldades, enfim, não vejo a força para destravar a proposta dentro da casa. 

Sobre o projeto do senador Cleitinho, um parlamentar da oposição fazer um projeto igual ao meu demonstra a minha capacidade de articulação. Até meus oponentes querem copiar meu trabalho e acho isso admirável. Tem o PL do próprio governo, que é mais recente. Eu ainda não conversei com o Lindbergh [Farias, líder do PT na Câmara dos Deputados], mas ele me procurou, disse para que eu ficasse tranquila porque a ideia é que o PL precisa de menos votos que uma PEC e que ele iria me explicar exatamente a articulação que devem fazer.

Não vejo problema se o governo entender o PL como o melhor caminho. Nós chegamos a estudar essa opção, mas vimos a PEC como mais forte, pois ela mexe na Constituição. Mas, se o governo avaliar que o PL é o melhor caminho, terá todo o meu apoio e minha articulação dentro da Câmara para fortalecer a proposta.

Como a esquerda pode melhorar sua comunicação digital para enfrentar figuras como Nikolas Ferreira (PL-MG) e reduzir o distanciamento dos eleitores?

É difícil enfrentar uma comunicação paga com muito dinheiro, que inclusive precisava ser justificado de onde sai. Eu consigo explicar como eu pago uma bolsa. Agora, não sei se os deputados conseguem explicar como eles pagam tantos milhares de reais em impulsionamento nas redes sociais. 

Tratar a mobilização da extrema-direita nas redes sociais como um talento, eu acho que é um erro grotesco. Não é talento, é robô, é dinheiro de corrupção por trás. 

Claro, isso não isenta a esquerda de também precisar fazer sua lição de casa e entender como usar outros meios para contrapor aquilo. Eu, por exemplo, consegui fazer um enfrentamento muito forte com a questão do Pix sem ter colocado 10 centavos de impulsionamento. Meu Instagram não tem impulsionamento pago, todos os meus números são orgânicos.

Acho que temos que pensar como é que nós disputamos esse espaço, com a linguagem dos jovens, das redes, para falar sobre política. Sem descartar que a comunicação da extrema-direita é manipulada, paga, não é orgânica. 

Eles se vendem como um talento nato nas redes socais, mas, por trás, estão envolvidos com uma série de manipulações de dados. Por outro lado, a esquerda tem que olhar para isso e não se intimidar e ter uma comunicação mais direta e modernizada. As redes sociais são a nova TV, rádio e jornal da época. Para fazer política é preciso disputar esse território e na mesma velocidade. 

A nova estratégia de comunicação do governo, com Lula mais ativo, é suficiente para reverter a crise de imagem?

A Secom mudou bastante. Lá também foi um gráfico de montanhas russas e acho que tem mudado um pouco a cara da comunicação do governo. Um exemplo é o que foi chamado de “nós contra eles”, que o governo conseguiu disputar a narrativa nas redes sociais. 

Não foi o governo quem articulou, nem foi o governo quem trabalhou com o “Congresso Inimigo do Povo”. Mas a força que isso se espalhou rapidamente deu força maior para o governo.

O presidente Lula falar é sempre bom. Ele tem carisma, ele tem a atenção das pessoas. Eu acho que há uma mudança importante na Secom que tem trazido bons resultados para o ponto de vista da comunicação do governo. 

Erika Hilton

Deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), em entrevista à ISTOÉ

O PSOL deve abandonar a esquerda radical e seguir o PT em direção ao centro, visando 2026?

Eu acho que tem sido feito esse movimento de defender os seus ideais e agenda, mas a política é dura. Fazer política não é apenas esticando cartazes ou na base do grito. É preciso sentar à mesa, conversar e dialogar para o que podemos avançar pensando na população. 

E eu acho que há necessidade de compreensão de que o PSOL não é mais um partido tão nanico como já foi. É um partido da base do governo, com assentos na Câmara dos Deputados e que precisa ter uma atitude madura, de partido responsável para enfrentar os debates. Acho que já estamos nesse lugar. Não vejo o PSOL como um partido de radicalismo de esquerda. 

O que é radicalismo de esquerda? É defender pautas relacionadas à questão dos direitos reprodutivos? É defender as pautas da comunidade LGBTQIA+. É defender o direito dos movimentos sem terra, sem teto e etc. Isso é ser radical? Porque se for, nós vamos ser sempre radical. Porque essa é uma agenda prioritária para nós.

Faremos isso com a responsabilidade de um partido que entende toda a correlação de forças da Câmara dos Deputados, que não dá para ser feito na base da brincadeira. É política de verdade. Para ganhar aqui, precisamos ouvir para avançar. 

Não dá para brincar. O fantasma da extrema-direita sopra do fascismo, sobrevoa sobre as nossas cabeças e, na primeira oportunidade, nós podemos ser pegos de novo de supetão. E o partido não pode ser um partido de brincadeira. É preciso seriedade e pautas comprometidas, entendendo que nem sempre saem da maneira que gostaríamos. Isso faz parte do jogo político. 

Há tempo para Lula reverter sua queda de popularidade? Quem seria seu sucessor natural em 2030, já que nem ele nem Bolsonaro têm nomes definidos?

 Não tenho resposta para isso ainda. Eu fico cada vez mais angustiada quando penso sobre isso, porque sempre me pergunto quem irá suceder o presidente. Há muitas figuras com capacidade de gestão, mas não temos uma figura que tenha o carisma e a popularidade do presidente Lula. 

Eu acho o ministro Fernando Haddad um homem excelente, técnico, mas não sei se tem o mesmo carisma, o mesmo encanto para conseguir disputar em 2030. A eleição vai ser ainda mais acirrada e mais difícil. Não sabemos como será a reorganização da extrema-direita até esse período. 

Não me atrevo a falar um nome, mas vamos continuar trabalhando para que apareça o quanto antes. 

Sobre a popularidade, acho que há tempo hábil para reverter. Sempre há tempo hábil na política. A política muda e é muito rápido. A popularidade estava em baixa, logo estará em cima. 

Temos uma capacidade de ouro nas mãos com tudo isso que a extrema-direita tem feito contra o nosso país. Desde 8 de janeiro até agora com a sucessão de ataques à democracia e à soberania nacional. Eles não têm projetos. Eles têm uma bagunça, um medo, um pânico, um caos, uma loucura. Quem vai ser, não vai ser, se é o próprio Eduardo, Tarcísio. O Tarcísio briga com o Eduardo publicamente, ai vem o tarifaço. A extrema-direita quer se mostrar como uma fortaleza, uma força, mas os estão completamente perdidos e desorganizados. 

O presidente Lula que tomou medidas muito importantes, teve muita altivez ao debater a questão do tarifaço. Nós temos um líder e um líder que não usa tornozeleira. Temos um líder que não responde a inquérito no Supremo Tribunal Federal e que não está organizado com quadrilhas para tentar derrubar a democracia. 

Do lado de lá tem um homem que pode ser preso a qualquer momento, mas que insiste em dizer que vai ser candidato, mesmo já não sendo elegível pelo Tribunal Eleitoral do nosso país. Uma pessoa que debocha das instituições, que despreza a justiça, que patrocina o filho em outro país para articular contra esse país e que vive num delírio. 

E nós não só reverteremos esse cenário, como teremos uma eleição muito bonita e louvável para que nunca mais volte aqueles que exaltam a tortura e a ditadura para ocupar uma cadeira no Palácio do Planalto.