“Sempre fui um aluno mediano. Meus trabalhos escolares não tinham capricho e minha caligrafia era o desespero dos professores. Mas meus colegas me apelidaram de Einstein, de modo que é de se presumir que viram sinais de algo melhor em mim”. Vinda de uma das mentes mais brilhantes a estudar o universo desde Albert Einstein, a humilde declaração do físico inglês Stephen Hawking dá uma pequena amostra de sua grandeza de espírito. Morreu aos 76 anos na quarta-feira 14, mesmo dia em que 139 anos antes, nascia o responsável pela teoria da relatividade, Hawking deixa um legado para a ciência e um exemplo do triunfo da mente sobre a matéria.

“Fico feliz se acrescentei algo ao nosso conhecimento do universo” Stephen Hawking (1942-2018)

Filho de Frank Hawking, médico que estudava doenças tropicais, e Isobel, que cursou filosofia, política e economia em Oxford, Stephen nasceu no dia 8 de janeiro de 1942, exatos 300 anos após a morte de Galileu Galilei, como o próprio físico gostava de apontar. Sua carreira acadêmica demorou a engrenar. Foi alfabetizado apenas aos oito anos. Quando foi para o ensino médio conseguiu se classificar para a sala mais forte, mas por pouco não foi rebaixado. Começou a mostrar seu talento apenas quando tinha 17 anos e obteve uma bolsa de estudos em Oxford. Depois, foi para Cambridge.

Nesse período, foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, ou ELA, uma doença degenerativa que mata os neurônios responsáveis pelos músculos voluntários. “Antes de minha condição ser diagnosticada, eu estava muito entediado. Pouco depois de sair do hospital, sonhei que seria executado. Subitamente, percebi que havia um monte de coisas boas que eu poderia fazer se tivesse mais tempo”, escreve Hawking em sua autobiografia, “Minha Breve História”. Motivado por seu noivado com Jane Wilde, com quem se casaria e teria três filhos, o físico se lançou ao trabalho.

Sua maior contribuição para a ciência foi o estudo dos buracos negros. Singularidades previstas na teoria da relatividade de Einstein, mas tidas como curiosidades teóricas, são, por definição, objetos densos, com tanta gravidade que nem mesmo a luz consegue escapar. Hawking provou que buracos negros, ao contrário do que se pensava, podem sumir. Irradiam energia, conhecida hoje como radiação Hawking, e não são negros de verdade. Para chegar a essas conclusões, o físico buscou unir duas áreas díspares: a relatividade geral, que estuda estrelas e galáxias, com a teoria quântica, usada para descrever átomos e partículas muito pequenas. Visto como o “santo graal” da ciência, o ponto de contato entre essas duas áreas poderia revelar como o universo nasceu – e vários de seus maiores segredos. Hawking explorou esse ponto de contato e ofereceu bases que serão usadas durante muitos anos. Só não ganhou um Nobel pois seu estudo dos buracos negros não tem comprovação observacional.

Carismático, Stephen Hawking se tornou um dos pesquisadores mais populares do mundo. Com o sintetizador de voz que se tornou uma marca registrada — a ponto de o físico se recusar a trocá-lo, mesmo depois que a empresa responsável por ele faliu e o equipamento se tornou obsoleto — e um afiado senso de humor, Hawking entrou para o imaginário do público. Fez participações em séries de TV como “Star Trek”, “Simpsons” e “The Big Bang Theory”. Ele próprio escreveu best-sellers. “Uma Breve História do Tempo” (1988), que mostra os avanços na compreensão do universo, vendeu mais de 10 milhões de cópias e foi traduzido para 40 idiomas. Escreveu ainda outros sucessos, como “O Universo em uma Casca de Noz”.

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TIMONEIRO Em Oxford, Hawking (em destaque) era responsável por guiar os barcos do Clube de Regatas (Crédito:Divulgação)

“Desde Einstein não tínhamos uma figura na ciência capaz de cativar milhões de pessoas” MICHIO KAKU, físico americano

Sua trajetória pessoal foi levada aos cinemas em “A Teoria de Tudo” (2014), pelo qual o inglês Eddie Redmayne, no papel de Hawking, ganhou o Oscar de melhor ator. As liberdades tomadas em relação à história não diminuíram o impacto da mensagem de superação do físico. Nos últimos anos, o cientista manifestou sua preocupação com o futuro da Terra — e sonhava com o momento em que viagens ao espaço se tornariam rotineiras. Segundo ele, a humanidade devia buscar novos planetas para habitar. “Tem sido um período glorioso para se viver e fazer pesquisa no campo da física teórica. Fico feliz se acrescentei algo ao nosso conhecimento do universo”.


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