Do presidente de um tribunal espera-se a defesa intransigente do estrito cumprimento da Constituição, das leis infraconstitucionais e dos tratados internacionais que preservam a dignidade humana.

De um general espera-se o incondicional respeito à ordem e ao Exército.

Isso está historicamente cristalizado como evolução do fenômeno civilizatório desde a Declaração da Independência dos EUA e o início da Revolução Francesa, ambos os eventos ocorridos no século 18, a ensolarar a vida em sociedade – era o homem despedindo-se das trevas da irracionalidade. Fez-se o Iluminismo!

Luis Carlos Gomes Mattos preside um tribunal e é general de Exército de três estrelas. Mas sua concepção de mundo parece que sobrevive nos tempos da barbárie: em nada lhe chocou ouvir áudios gravados por colegas de instituição comprovando que oponentes políticos foram barbaramente torturados durante o regime ditatorial fardado.

Quem paga em desprestígio pela naturalidade com que Luis Carlos Gomes Mattos reagiu aos áudios é o próprio Exército. Até porque, ele, que é general, preside um tribunal: o Superior Tribunal Militar.

É com o máximo de esforço, embora em vão, que oficiais tentam fazer crer, nos dias de hoje, que a prática de tortura ocorreu na ditadura por conta de agentes que operavam nos porões da repressão, independentemente de ordens superiores. Claro que é mentira, até a terra das valas clandestinas em que tantos corpos foram enterrados sabe que é mentira. O eterno eco do último grito de um torturado, corpo e dor pendurados no ar sabem que, com raras exceções, os oficiais davam o seu aval às atrocidades.

A naturalidade do general Mattos e o seu desprezo pela gravidade da existência de tortura trazem para dentro dos gabinetes dos oficiais, coloca dentro de tais gabinetes, o esqueleto da sevícia.

Segundo o general Mattos, os áudios gravados por ministros do tribunal que hoje ele preside, comprovando o crime imprescritível de tortura, não estragaram a sua Páscoa.

Ele não se deu conta, porém, que daqui para frente todas as suas Páscoas estarão podres. Mattos passou a ser o general, repita-se, que fez aquilo que seus pares não queriam ver acontecer de maneira alguma. O seu desdém provou que a prática da tortura era política de Estado à época da ditadura militar.