É chegada a época em que o Brasil, movido pela excitação das festas de fim de ano, esquece da destruição das florestas. 2020 foi um ano em que árvore virou pó — biomas nunca estiveram tão em risco como nesses trezentos e sessenta e cinco dias que chegam ao fim. Só que o ano ainda não terminou. E é, justamente, nesse período que o garimpo ilegal torna-se tão gigante na Amazônia que até parece legalizado. Infelizmente, o garimpo ilegal não tira férias. E essa atividade criminosa e destruidora se aproveita da folga de grande parte da população brasileira para destruir ainda mais a maior floresta tropical do mundo. A Amazônia está em risco, mas não é de hoje. Entretanto, esse ano a situação parece ainda mais deplorável. Em 2020 a nossa floresta tropical correu — e ainda corre — o risco de virar uma savana. O que isso significa? Se mais de 30% do bioma for destruído ele perde a sua capacidade de reconstrução. A situação, então, é ainda mais grave quando revelado o estudo da Fiocruz de que 100% do território da etnia Munduruku, localizado no Rio Tapajós, está contaminado por mercúrio. Motivo? Garimpo ilegal. O quadro já é desesperador, então, é possível que o cenário piore ainda mais enquanto voltamos nosso foco para as festas de fim de ano. Repito: o garimpo não tira férias. Os indígenas, por sua vez, seguirão pedindo socorro — e cabe ao resto da população escutá-los ou silenciá-los.

Por isso, os compositores Ana Claudia Vasconcellos e Paulo Basta decidiram atingir a população por meio da música. Escreveram a brilhante letra “Amazônia sem garimpo”. Música que mais parece um pedido de socorro: “Um protesto em forma de canção”, disseram. “A corrida pelo ouro que nunca se acaba / A ganância e o egoísmo / Combinação nefasta”, diz os versos. Para que a floresta continue de pé e os povos originários vivos, a arte, nesse momento em que a população se esquece do garimpo ilegal, parece ser a última — ou a única – salvação.