Quando era criança, ainda no primário – atual ensino fundamental – conheci um personagem muito comum na infância de todos nós: o moleque que dá porrada em todo mundo, sabe como é?

No meu caso, foi o Júlio.

Não era esse seu nome, mas vou proteger sua identidade, caso ainda ande solto por aí.

Você deve ter conhecido um Júlio também.

Geralmente um garoto forte, violento, facilmente irritável e, quase sempre, coitado, com uma inteligência limitada.

Os Júlios não procuram conquistar amigos mas conquistam sempre um séquito fiel.

Geralmente garotos que querem escapar de sua violência ou são tão agressivos quanto ele mas que, como gorilas beta, perderam na luta pela liderança do grupo de arruaceiros.

Agora são obrigados a seguir o gorila alfa para se aproveitar de alguma sobra de suas conquistas medíocres.

Júlio está sempre à caça de novas vítimas para humilhar, ofender e agredir.

Pode ser o gordinho de óculos ou quem sabe o professor de biologia.

Precisa sempre de alguma vítima disponível para delírio de sua claque.

Júlio é figura constante na diretoria, onde os pais já foram chamados diversas vezes e, não raro, apresentam também a mesma personalidade.

Defendem as atitudes do filho como se fossem qualidades.

Júlio está sempre em vias de ser expulso, coisa que já aconteceu em outros colégios. Mas não aprende nunca.

Bolsonaro, é o Júlio, já notaram?

Foi expulso do Exército por suas atitudes. E não aprendeu nada.

Uma vez presidente, político alfa, tem seu séquito de políticos betas e empresários menores, que acreditam estar sob sua proteção e, quem sabe, se beneficiar de suas contravenções sociais.

O STF está para Bolsonaro assim como a diretoria está para Júlio.

Alexandre de Moraes é, neste caso, o diretor que tenta controlar o menino malcriado, sabendo que, mais cedo
ou mais tarde, voltará a confrontá-lo.

A família de Bolsonaro apoia indistintamente suas atitudes, com orgulho e muitas vezes cumplicidade.

A turma de nosso presidente nega a Ciência, do mesmo jeito que Júlio insiste em não estudar.

O comportamento de Bolsonaro, durante toda sua carreira, foi o de uma criança malcriada, que não mede o impacto
de suas frases e gestos.

Júlio e Bolsonaro, falam o que bem entendem, para quem bem quiserem.

Seja para outro moleque, seja para o presidente da França.

Ambos arrancam a merenda dos amiguinhos, chutam a bola sem prever que vão quebrar a vidraça do vizinho e estão sempre prontos para o bulling.

Você pode ter outras teorias. Pode achar que as atitudes de nosso presidente (ainda) em exercício (apesar de sumido) foram movidas por má fé ou por alguma agenda obscura.

Na pandemia por exemplo.

Pode acreditar que o presidente não queria impactar a Economia, por isso foi contra os períodos onde o planeta decidiu ficar em casa.

Que nada. Bolsonaro e Júlio não planejam nada. Apenas agem para atender ao seu próprio ego. Mera picuinha.

Como na semana passada quando Bolsonaro, arrogante, ignorou o General Mourão, um de seus principais asseclas.

De volta ao ensino fundamental, Júlio repetiu um ano e eu, chegando antes ao ensino médio, conheci gente igual a ele que, ingenuamente acreditei, colocariam Júlio nos trilhos.

Não se engane. Aquele moleque que batia em todo mundo na escola estará sempre à espreita

Foi o que pensei, também quando Bolsonaro perdeu a eleição.

Que quatro anos serviriam para esvaziar o ego e a truculência do presidente.

Lembrei-me o que aconteceu com o Júlio quando finalmente chegou ao ginásio.

Em pouco mais de uma semana, espancou todos os seus rivais mais velhos e rapidamente assumiu novamente a liderança. Por isso, não se iluda.

Bolsonaro e Júlio não mudam. Não concedem às normas.

Podem sumir por um tempo.

Mas sempre voltam para infernizar as nossas vidas.