Pouca gente sabe, mas o presidente tem lá suas superstições. A informação é guardada a sete chaves, já que a bancada evangélica faria um escândalo se soubesse. Além disso, o presidente é um católico fervoroso e não gosta de ceder às tentações pagãs. Mas, no fim do ano não custa fazer uma consulta básica ao destino. O oráculo deste ano atende pelo nome de Osmar de Nhãsuma e foi uma indicação da Damares.

O presidente prefere chamá-lo de Osmar mesmo, que é para não dar muito na cara. Na última terça-feira, Osmar chegou ao palácio em um veículo de chapa fria, impossível de ser identificado. A pedido do presidente, em vez da tradicional túnica branca, o homem vestia um terno de três peças e seus búzios sacolejavam em uma bolsa Louis Vuitton, que foi a melhor que conseguiram encontrar na loja do hotel. Sua entrada pelo palácio foi rápida e não levantou suspeitas.

Em poucos minutos, estava sentado no tapete da sala do palácio presidencial.

– Seu Osmar, vamos ser práticos. O que eu quero saber é como vai ser o meu ano e o meu governo. Algum escândalo pela frente? O que tão tramando os gays, os comunistas, os índios, as ONGs. Não me enrola aí.

Osmar de Nhãsuma não aceitaria esse tratamento de nenhum de seus clientes, mas presidente é presidente e, de mais a mais, o status de primeiro pai de santo da República seguramente renderia uma aparição na Luciana Gimenez. Com sorte, até no Fantástico.

Enquanto pensava na fama e lucros iminentes, o pai de santo lançou os búzios.

Na verdade, Osmar não tem a mais vaga ideia de como ler búzios ou qualquer outra concha que seja. Sua fama começou em uma brincadeira entre amigos quando ele, fingindo receber uma entidade, cravou Botafogo 2 x 3 Olaria.

Até então era marceneiro — o consagrado Osmarceneiro da Baixada — daí para frente Osmar descobriu uma forma bem mais fácil de ganhar dinheiro: inventar o futuro.

– Olha presidente, o senhor sabe que os búzios não mentem.

– Anda logo, Osmar. O que você tá vendo aí?

– A coisa tá complicada, presidente. O ano de 2020 trará muitos conflitos.

– Que conflitos? — desconfia o presidente.

– Logo nos primeiros meses vejo problemas com seus filhos 01, 02 e 03 no Twitter.

– Eu falo para eles tomarem cuidado. Dona Almerinda, manda os meninos saírem do Twitter até depois do Carnaval — ordena o chefe do Executivo para a secretária.

– O que mais, Osmar? O que mais?

– Em março vejo a queda de um ministro importante.

– Importante? É o Moro, não é? Ou é o Paulo? Hein? Hein? De importante só tem esses dois.

– Não consigo ver qual deles, presidente. Mas após a queda, vejo problemas na Economia.

– É o Guedes. Eu sabia.

– E no Judiciário também.

– Então é o Moro. Decide, meu filho!

– A inflação vai disparar. Desemprego. STF. Reforma política. A coisa tá feia, meu presidente.

– Meu Deus, não me diz um negócio desses.

– Mas calma que…

– O quê? O quê? — o presidente anda de um lado para outro.

– Surgirá um herói!

– Herói? Quem? Eu?

– Não! Mas vejo que ele apresenta soluções e o País está se unindo de novo!

– Quem é? Quem é? — ofega o presidente.

– Ah não… Sinto muito. É o Lula fazendo comício — ocorre que Osmar, além de petista, sempre foi um baita gozador.
O presidente explode.

– Canalha! Ponha-se daqui para fora!

– Calma, presidente. São os búzios, não sou eu.

– Que mané búzios que nada, rapaz! Esses seus búzios tão tudo bichado! — esbraveja o presidente, enquanto os seguranças arrastam Osmar de Nhãsuma para fora do Distrito Federal.

Pela janela, o presidente assiste o sujeito sendo colocado no carro e despachado de volta.

Olhando para o horizonte, o presidente só vê uma chance verdadeira para o País.

– O mapa astral — resmunga para si mesmo — Dona Almerinda, me liga com o Olavo. É urgente!

Ninguém resiste às previsões de fim de ano. Nem o presidente, que descobriu o que lhe espera por meio dos búzios de Osmar de Nhãsuma, antes Osmarceneiro da Baixada