Leila Diniz participou de 14 filmes, 12 novelas e diversas peças de teatro, mas seu papel mais importante não foi como atriz. A bela fluminense de Niterói tornou-se, ainda jovem, um símbolo da emancipação feminina nos anos 1960, uma nova mulher brasileira que surgia poderosa e empoderada muito antes desse termo existir. Embora não tenha entrado para a história por sua qualidade como artista, sua importância cultural permanece incontestável. Hoje, cinco décadas após sua morte, essa relevância e influência podem ser melhor compreendidas graças a Já que Ninguém me Tira para Dançar, documentário dirigido pela amiga Ana Maria Magalhães que está no acervo da plataforma de streaming Itaú Cultural Play. Filmado em 1982, o longa restaurado em 2015 traz depoimentos dos ex-maridos da atriz, os cineastas Domingos Oliveira e o moçambicano Ruy Guerra, pai de sua filha, Janaína, além de artistas como Marieta Severo, Betty Faria e Paulo José, entre outros.

Leila Diniz tornou-se musa do Cinema Novo e da juventude de Ipanema graças a sua beleza, mas, principalmente, por sua atitude livre e desprendida. “Era uma mistura e Marilyn Monroe e Dercy Gonçalves”, definiu o diretor Luiz Carlos Lacerda. A comparação se deve ao corpo escultural de Leila, no caso da atriz americana, e da ausência de papas na língua, no caso de Dercy. O uso do palavrão, hoje um recurso até ingênuo, era visto na época como uma forma de rebeldia. “O palavrão virou verdade em mim. E quando é verdade todo mundo aceita”, dizia Leila. A histórica entrevista que deu para a revista Pasquim a transformou em ícone da subversão: “você pode muito bem amar uma pessoa e ir para a cama com outra. Já aconteceu comigo”, afirmou. As declarações não foram bem vistas pelo regime militar, que a considerava “uma ameaça aos bons costumes”. Pressionada, a TV Globo não renovou seu contrato, e a atriz ficou limitada a atuar no teatro de vedetes. A vida intensa e alegre foi interrompida cedo: em 1972, aos 27 anos, sofreu um acidente aéreo fatal quando viajava do Japão para a Índia. Além das obras que deixou como atriz, ela segue viva nas canções e filmes para os quais serviu de inspiração, como o samba Leila Diniz, de Martinho da Vila, e o longa Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos Oliveira. Fica também a imagem de uma mulher à frente do seu tempo, um farol para as novas gerações que continuam a buscar a igualdade entre homens e mulheres.