A natureza anda mesmo implacável com a gente.
Está decidida a nos varrer da face do planeta com seu espanador de catástrofes.
Nós, brasileiros, demos a sorte.
Estamos a salvo de erupções vulcânicas, raramente temos terremotos e não há registro de nevascas nos livros de História.
Em compensação, o que nos falta em tragédias naturais, compensamos criando tragédias artificiais.
Desastres criados pela mão do homem, sem nenhuma relação com as forças do meio-ambiente.
A primeira dessas tragédias é o Tsunami de Corrupção.
Uma onda de roubalheira que vai se formando aos poucos nos subterrâneos, nos quartos de hotel, nos porta-malas, nas repartições públicas do
segundo escalão.
A marolinha, então, cresce até invadir o Congresso Nacional e as salas de estar do Executivo com uma força de dimensões inimagináveis.
No rastro do Tsunami de Corrupção vêm sempre crises econômicas, desemprego e destruição de sonhos e esperanças.
Tal qual o tsunami natural, que apaga ilhas inteiras e arranca árvores centenárias pela raiz como se fossem de brinquedo, o Tsunami de Corrupção arranca de seus tronos os empresários e políticos enraizados à gerações.
Afunda empresas que pareciam sólidas como rochas.
Outra tragédia artificial criada aqui em nossas terras é a Inundação de Incompetência.
Começa com uma garoa ininterrupta de equívocos e má fé.
O despreparo, a burocracia, o nepotismo e o corporativismo vão se acumulando até atingir um nível alarmante.
Um dia a barragem política não aguenta e rompe causando uma inundação de prejuízos e devastação sem precedentes.
A Inundação de Incompetência ocorre em áreas específicas do país, notadamente na saúde pública, saneamento e educação.
Tem mais: a virulenta Epidemia Evangélica.
Em sua variante não agressiva, a Epidemia Evangélica surgiu nas igrejas e cultos espalhados pelo país.
Em pouco tempo se propagou — com fúria bíblica — para as Assembléias. Legislativas.
A contaminação do Congresso Nacional foi instantânea.
Aí adeus.
A Epidemia Evangélica mandou para a UTI o Estado Laico.
E não existe cura conhecida.
Todas essas tragédias já seriam suficientes para nos apagar do mapa.
Mas o pior guardei para o final: o Furacão Conservador.
Tenho até medo de descrever.
Começa como uma brisa as vezes confundida com um refresco de ideias.
De uma hora para outra os ventos da mudança começam a girar no sentido anti-horário.
E quando nos damos conta, é tarde demais.
O olho do Furacão Conservador é a ignorância.
É de lá que emanam rajadas terríveis de nacionalismo, xenofobia, preconceito e até militarismo.
O Furacão Conservador não poupa ninguém.
Escolas, museus, minorias, movimentos sociais são todos arrancados de seus direitos mais fundamentais.
E olha só: não quero ser alarmista nem nada, mas estudiosos dizem que existe um terrível Furacão Conservador em formação.
Não garantem, mas à boca pequena dizem que vai atingir categoria 5 em outubro do ano que vem.
Espero que estejam errados senão, meu amigo, a gente vai implorar por um meteoro.

“Escolas, museus, minorias, movimentos sociais são
todos arrancados de seus direitos mais fundamentais”