Ninguém deveria se surpreender com a adesão de milhares de pessoas ao carnaval fascista promovido por Bolsonaro no Sete de Setembro. Há dois meses ele está fazendo propaganda do evento usando a estrutura do governo, as TVs estatais, as declarações para a imprensa nos cercadinhos, as lives e as redes sociais turbinadas com robôs para propagandear o dia do “basta”. Na véspera, chegou a editar uma MP inconstitucional para obrigar as grandes redes como Facebook, Twitter e Youtube a manter no ar mentiras e propaganda de ódio – para proteger seus próprios apoiadores, claro.
O show patético em Brasília e em São Paulo já estava em preparação desde a posse. Como nunca teve paciência ou competência para governar, o presidente dedicou 100% do tempo desde o início a subverter as instituições e preparar o golpe. Mas o fiasco da manifestação em Brasília, com uma presença bem inferior à pretendida, e a artificial adesão em São Paulo à base de “caravanas” financiadas em todo o Brasil mostram de forma cabal que falta o apoio da sociedade. Bolsonaro continua com 15% de adesão, o seu núcleo duro. A rejeição já ultrapassou 60%, e se aproxima de 70%. Marchas fascistas fazem barulho, mas não mudam a história se não tiverem sustentação.
O roteiro golpista não vai se completar. Não é possível fechar o STF com um “cabo e um soldado”, como Eduardo Bolsonaro afirmou em 2018. A “convocação” do conselho da República pelo seu pai não significa nada. O mandatário não vai decretar o “Estado de Sítio”. Pode, ao contrário, dar mais força ao impeachment, que já deveria estar em curso pelos ataques óbvios contra a Constituição. Nunca foi tão necessário esse instrumento da democracia para defender a própria democracia.
Se o impedimento continuar travado pelo quinta-coluna de Bolsonaro no Congresso, o notório Arthur Lira, o País precisará se preparar para novas chicanas, e mais barulhentas, até as eleições. O presidente já tentou sem sucesso melar o pleito de 2022 com o embuste do voto impresso. Tentará até o fim derrubar a ordem democrática e se proteger das barras da Justiça, que já se prepara para julgá-lo pelos seus múltiplos crimes. É preciso que o Congresso atue com a mesma determinação da Justiça. Caso contrário, aqueles que apoiam Bolsonaro por puro oportunismo e desprezo pela lei poderão ter o mesmo destino do chefe.