Basta ver o mapa do Brasil com a distribuição de votos entre Lula e Bolsonaro para se perceber que a divisão da sociedade não acabou e não deve acabar tão cedo. Dos 118 milhões de votos válidos, 108 milhões foram dados aos dois: 57 milhões para o ex-presidente e 51 milhões para o presidente. Lula precisava de mais 2 milhões, mas não ganhou no primeiro turno porque o eleitorado conservador correu às urnas no domingo para evitar a volta do PT. O bolsonarismo nivelou a disputa com o petismo e está com viés de alta. Tem uns 10 milhões de votos em disputa. Vencerá no dia 30 quem conquistar o eleitor do centro e o resultado já mostrou que qualquer um dos dois que vier a ser eleito terá dificuldades para pacificar o País. A batalha entre o “nós e eles” deverá continuar.

Divisão

Se der Lula, a direita que conquistou maioria expressiva no Congresso infernizará sua vida e o PT terá que ceder ao Centrão. Com Bolsonaro, aumentará o risco de o autoritarismo se intensificar, pois a extrema direita fortalecida pressionará por suas pautas conservadoras. Mas, tanto um como o outro romperá com o teto de gastos e a vida vai piorar.

Pesquisas

Apesar das reclamações, os erros dos institutos de pesquisa não foram determinantes. O índice de Lula ficou dentro da margem de erro. Não conseguiram medir a revoada para Bolsonaro no domingo e o voto útil acabou sendo contra o PT (Ciro murchou). Uma das razões foi a falta de um censo atualizado que não estimou o crescimento dos evangélicos.

Lira não dá ponto sem nó

Ton Molina

Arthur Lira ligou para os deputados bem posicionados na corrida por mais um mandato na Câmara para desejar um bom desempenho nas urnas. Não foi mera cortesia, mas o início da disputa pela Presidência da Casa, prevista para fevereiro. A avaliação é de que sua vitória estaria alavancada pelos 104 deputados eleitos pelo PP e União Brasil, em processo de fusão, além dos 99 do PL de Valdemar Costa Neto.

Retrato falado

“A área fiscal vai desafiar o eleito”

O ex-ministro Mailson da Nóbrega disse ao “Valor” que um dos maiores desafios de Lula ou de Bolsonaro será a criação de uma nova política fiscal que reduza gastos, mas nenhum dos dois mostra-se interessado em mudar o quadro atual. Ambos prometem aumento de despesas com benesses sociais e não sabem como cortar direitos adquiridos pela sociedade. Outra questão a ser enfrentada é aumentar a produtividade, com redução de privilégios, pois a geração de riquezas estagnou.

Quadro delicado

Qualquer um dos dois presidenciáveis que vier a ser eleito, terá um cenário econômico difícil pela frente e precisará definir desde já o que pretende fazer com a economia, especialmente quanto ao teto de gastos. Os dois já disseram que desejam acabar com a política que engessa as despesas públicas, mas não dizem o que colocarão no lugar para a estabilidade fiscal. Sem isso, certamente a inflação e a taxa de juros voltarão a subir, provocando mais desemprego e menor crescimento do PIB. O mercado pede que Lula defina qual será seu plano econômico. Com Bolsonaro, já se sabe que o barco continuará sendo tocado por Paulo Guedes, e o mercado gosta dele.

Baixo nível

Yuri Murakami

Ao eleger para a Câmara nomes de políticos investigados pela Justiça por malfeitos, o bolsonarismo vai contribuir para baixar o nível da próxima legislatura. Esse é o caso de Ricardo Salles, denunciado por beneficiar madeireiros, e de outros, como Pazuello, acusado na CPI da Covid, e Zé Trovão, responsável por atos antidemocráticos e fake news.

Gol no apagar das luzes

Andressa Anholete

No meio político, as analogias do futebol são frequentes. O deputado José Medeiros (PL-MT), reeleito domingo, 2, usou uma delas para explicar a sensação que teve com o desempenho de Bolsonaro no primeiro turno.“Foi como aquele jogo em que o adversário está ganhando o título com o empate, mas teu time marca um gol aos 45 minutos do segundo tempo e leva para a prorrogação.”

Toma lá dá cá

José Luiz Penna, presidente do PV (Crédito:Divulgação)

A reação de Bolsonaro surpreendeu o QG de Lula?
Os números de Lula ficaram dentro da margem de erro das pesquisas, mas Bolsonaro com 43% era impensável. Faltou computar o impacto das fake news no voto.
O que explica o fato de Bolsonaro emplacar também as maiores bancadas no Congresso?
O pilar do fenômeno é o orçamento secreto. O governo tem muita força e a usou distribuindo as benesses que vimos. O fascismo está no poder e tirá-lo de lá numa reeleição é obra de gigante.
Quais armas o PT ainda tem?
Temos que mostrar o nível de corrupção do governo Bolsonaro e dizer claramente que essa pode ser a última eleição democrática no Brasil, pois o próximo passo do presidente seria rumo ao Estado de Exceção.

Crise no mundo

O quadro da economia global para 2023 também não é bom, e o Brasil deve ser bastante afetado. Países ricos estão entrando em recessão e devem reduzir as importações. A China, nosso maior mercado, pode crescer menos que os 6% de antes da pandemia e a guerra na Ucrânia eleva os preços mundiais do petróleo.

Também no Senado

No Senado a situação não é diferente. Com o apoio da primeira-dama Michelle, a ex-ministra Damares Alves se elegeu para o Salão Azul, depois de uma campanha de baixaria contra a também ex-ministra Flávia Arruda. Foi eleito também Magno Malta (PL-ES), que vinha sendo escanteado por Bolsonaro desde o início do governo e agora será perdoado.

Rápidas

Gilberto Kassab, presidente do PSD, comemorou dois feitos no domingo. Como articulador de Tarcísio para o governo de SP, reverteu a vantagem que Haddad tinha nas pesquisas. De quebra, reelegeu Ratinho Junior (PSD), no Paraná, contra Requião (PT), com 70% dos votos.

Nem sempre a amizade com Bolsonaro facilita a vida dos que tentaram uma vaga na Câmara. Não se elegeram o ex-PM Fabrício Queiroz, o advogado do presidente, Frederick Wassef, e sua ex-mulher Ana Cristina Valle.

Na guerra pelo dinheiro para a campanha no segundo turno, Lula larga na frente, com R$ 49,9 milhões para gastar, enquanto Jair Bolsonaro terá R$ 18,5 milhões. Com a reação nas urnas, o PL acha que isso vai melhorar agora.

Deputados eleitos em 2018 na esteira do sucesso bolsonarista e que depois romperam com o presidente, se deram mal. Joice Hasselmann e o ator Alexandre Frota, que se mudaram para o PSDB, não se reelegeram.