Motivos que expliquem a ignorância política do brasileiro não faltam. A começar pelo próprio sistema. Diante de tamanha ciranda, com tantos partidos e o troca-troca usual de legendas — Ciro Gomes e Jair Bolsonaro, apenas para ficar entre os presidenciáveis, já passaram por 15 (7 e 8, respectivamente) —, seria mesmo injusto cobrar ânimo. O voto obrigatório e a corrupção encruada apenas reforçam o sentimento de que é inútil se interessar pelo processo.

Não por acaso, o cidadão é chegado a reducionismos. A rótulos que pelo menos simplifiquem um tema indesejado. Assim, acabam nascendo termos como “reaça”, “esquerdopata” e “isentão”. Passamos até a acreditar que existe uma direita no Brasil.

É claro que há uma divisão no País. Talvez mais de uma. Contudo, a que realmente interessa transcende os estereótipos fáceis e as bandeiras partidárias. Falo aqui do embate entre humanistas e autoritários. Entre os verdadeiros liberais — portanto, não apenas na economia — e aqueles que infestam o debate com retóricas abusivas, inimigas de uma sociedade que se pretende democrática.

Ou não é o fim dos tempos a postura de Fernando Haddad ao declarar que o Brasil não deveria se intrometer no “conflito venezuelano”? Representante de um partido como o PT, declaradamente aliado de Nicolás Maduro, Haddad não pode ser acusado de incoerente, mas tampouco devemos normalizar tanta falta de empatia com um povo vizinho.

Jair Bolsonaro, por sua vez, dispensa comentários. São inúmeros os sinais de que se trata de alguém pouco afeito não apenas à ordem democrática. Dia desses, discursando para a sua claque, declarou: “não tem essa historinha de Estado laico, não! É Estado cristão!” E ainda: “Vamos fazer um Brasil para as maiorias! As minorias têm de se curvar, ou desapareçam!”

Não bastasse o escândalo que é defender abertamente um Brasil em que as minorias seriam achatadas ou estariam fadadas a “desaparecer” — ditatorial por definição —, o candidato chama de historinha nada mais nada menos que a Constituição Federal.

Como se sabe, Guilherme Boulos e Manuela d’Ávila não ficam atrás no que-sito autoritarismo. Entretanto, cito Haddad e Bolsonaro pelo óbvio: ambos representam a disputa entre extremos. Entre partes da população desinteressadas com a condução do País, mas em moldá-lo à feição de suas megalômanas fantasias.

A boa notícia é que não é tão difícil assim impedi-los.

É claro que há uma divisão no País. Talvez mais de uma. Contudo, a que realmente interessa transcende os estereótipos fáceis
e as bandeiras partidárias. Falo aqui do embate entre humanistas e autoritários