PT passou quase 30 anos obcecado em acabar com a hegemonia do PSDB em São Paulo. Sua pauta prioritária na Assembleia sempre foi criminalizar o rival. Seu braço sindical esteve mais focado em minar os governos tucanos do que em defender os filiados. Com a implosão do PSDB, capturado pelo bolsonarismo, os petistas encontraram a “chance histórica” de se instalar no Palácio dos Bandeirantes. Mas essa pretensão tem tudo para se transformar no maior pesadelo petista em 2022.

Na campanha, Fernando Haddad apontou suas baterias contra Rodrigo Garcia porque achou que ele seria um alvo mais difícil em um segundo turno. Com isso, turbinou Tarcísio de Freitas. O bolsonarista surpreendeu, chegou em primeiro lugar no dia 2 e já recebeu o apoio de Garcia. Tarcísio está herdando um contingente de quase 200 prefeitos tucanos para sua campanha. São quase 500 mandatários da base no interior paulista, calcula Garcia. Todo esse exército agora pode abraçar Bolsonaro.

Sem um candidato de centro-direita para rivalizar com os petistas, os eleitores se voltam para o extremismo de direita

O interior do estado sempre se ressentiu das investidas do MST. Lula, ao tachar o agronegócio de fascista na corrida eleitoral, ajudou a afastar ainda mais esse eleitorado poderoso e conservador. A disputa em São Paulo parece irremediavelmente perdida para o PT, que ainda vai precisar lidar com a ambição de Guilherme Boulos, do PSOL, a quem prometeu apoiar para a prefeitura paulistana em 2024. Fora do Bandeirantes, dificilmente o PT honrará esse compromisso.

Numa dimensão mais ampla, o desaparecimento do PSDB paradoxalmente também enfraquece o PT. Sem um candidato de centro-direita para rivalizar com os petistas, os eleitores estão se voltando para o extremismo antipetista. A votação expressiva de Bolsonaro em 2022 mostra que a classe média está abraçando o capitão novamente, como ocorreu há quatro anos. É por isso que ele parou de atacar as urnas e está se vendendo como um moderado no segundo turno.

A estratégia desastrosa em São Paulo parece se repetir a nível nacional. Lula aposta na polarização e calcula que ao atrair o PDT e Simone Tebet, além de algumas forças de esquerda, conseguirá garantir a maioria para vencer no dia 30. Mas cooptar Geraldo Alckmin para sua chapa não significa que atraiu o centro. Esse erro de cálculo pode levar a um segundo mandato de Bolsonaro, muito mais nocivo para Lula do que
a dócil oposição do finado PSDB.