Paulo Maluf é verbete obrigatório em qualquer compêndio sobre a política brasileira. No dicionário tem até o verbo “malufar”, que significa fraudar, roubar os cofres públicos. Ele conseguiu encarnar como ninguém o bordão “rouba mas faz”. Como governador e prefeito de São Paulo, Maluf fez obras do interesse da população, mas também roubou muito dinheiro público. O deputado federal pelo PP é conhecido internacionalmente como “senhor corrupção”. Mas, por obra e graça das brechas na legislação, manteve-se em liberdade apesar dos inúmeros processos e infindáveis provas. Agora a impunidade chegou ao fim.

Por ordem do ministro Edson Fachin, do STF, Maluf vai cumprir pena de sete anos e nove meses de prisão, à qual foi condenado por lavagem de dinheiro. Ao condenar Maluf, em maio, além da pena de prisão, o STF determinou a perda de mandato do deputado. Em novembro, a defesa de Maluf, entrou com recurso pedindo novo julgamento, porque a decisão não foi unânime. Fachin, porém, entendeu que o recurso era protelatório. Na terça-feira 19 negou os embargos e mandou prender o famoso réu, que em 1985 chegou a ser candidato a presidente da República, enfrentando o vitorioso Tancredo Neves no colégio eleitoral.

Na lista da Interpol

Maluf é acusado de lavar recursos obtidos com o recebimento de propinas na Prefeitura de São Paulo, no valor atualizado de R$ 1 bilhão. Mas a ficha suja do deputado é extensa. Ele não pode entrar na França, onde foi condenado a três anos de prisão também por lavagem de dinheiro oriundo de propinas. Não pode viajar ao exterior, pois está na lista vermelha da Interpol desde 2010. É acusado de ter lavado R$ 12 milhões nos EUA, oriundos de contratos superfaturados quando era prefeito (1993-1996).

O deputado é bastante conhecido também nos paraísos fiscais. Foi condenado pelas autoridades da Ilha de Jersey, onde mantinha contas com dinheiro de origem ilícita. No Brasil, em 2005, um doleiro o acusou de movimentar US$ 160 milhões nos EUA. Pela denúncia de evasão de divisas, ficou 40 dias preso com seu filho Flávio na carceragem da PF em São Paulo.

Agora, aos 86 anos, vai pagar pelo que fez. Ele se entregou à PF na manhã da quarta-feira 20 em São Paulo. Foi transferido para Brasília para cumprir a pena no Complexo Penitenciário da Papuda, na ala destinada aos presos idosos. Seus advogados pediram ao STF que cumpra prisão domiciliar. Alegam que além da idade avançada, Maluf está acometido por uma recidiva de câncer de próstata. Os amigos costumam tratar Maluf com deferência. Só o chamam de “doutor Paulo”. Paulo Maluf, sem dúvida, entra para a história como doutor, mas em corrupção.

Um ícone da corrupção

• Maluf foi condenado pelo STF a sete anos e nove meses de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro

• Foi sentenciado pela Justiça da França a três anos de prisão, acusado de ocultar propinas, em bancos franceses

• O ex-prefeito está na lista da Interpol desde 2010. É acusado de ter lavado nos EUA US$ 12 milhões

• Em 2002, foi enquadrado por improbidade administrativa ao se envolver no caso Frangogate. Foi absolvido em 2010 pelo TJ SP

• Em 2005, passou 40 dias preso sob acusação de evasão de divisas. Foi acusado de manipular o depoimento de um doleiro, acusado de movimentar mais de US$ 160 milhões nos EUA

• Respondeu a mais de 60 inquéritos. O primeiro deles surgiu na década de 70, quando era governador de São Paulo. Foi condenado a devolver o dinheiro gasto na compra de 25 Fuscas doados aos campeões na Copa de 70. Acabou absolvido pelo STF 32 anos depois