A notícia de que pela primeira vez o Brasil sediou a Olimpíada Internacional de Matemática (IMO, na sigla em inglês) foi ofuscada na semana passada pela participação de um jovem de 15 anos cujo nome entrega sua origem: Hafez Bashar al-Assad, filho do ditador sírio Bashar al-Assad, conhecido por seu envolvimento na sangrenta guerra que dizima a Síria.

Hafez faz parte da equipe que representa o país na competição ao lado de outros cinco estudantes. Mas ele próprio afirma não ser o melhor entre seus conterrâneos — a nação ocupa a 48ª posição no ranking internacional. O rapaz já se destacou outras vezes por sua inteligência. No ano passado, ganhou o sétimo lugar na Olimpíada Síria de Ciências. Também em 2016, ele participou da competição internacional de matemática em Hong Kong. No Rio de Janeiro, a delegação síria disputa com outras 110 nações, num total de 623 estudantes de Ensino Médio. O evento acontece durante uma semana.

Ao ser questionado sobre o fato de o pai ser chamado de ditador, Hafez disse que as pessoas estão cegas. “Isso não é a realidade”, afirmou o jovem ao jornal “O Globo”. Após ter sido descoberto no Rio de Janeiro, ele se negou a dar novas entrevistas. Chamado de “futuro presidente” por apoiadores do regime comandado por seu pai, Hafez diz ser um cidadão sírio como qualquer outro. Ainda que testemunhe o horror que está tomando conta do lugar em que vive, ele acredita que a esperança não pode ser perdida. “A população e o governo estão unidos contra os invasores que estão tomando o país”, afirma.

A situação atual da Síria é bastante complexa. Os invasores a que ele se refere são, em sua maioria, integrantes da organização terrorista Estado Islâmico e de outros grupos rebeldes e extremistas. Sabe-se que nem toda a população do país está ao lado do governo, que tampouco conta com o apoio de líderes de algumas das maiores potências mundiais. O presidente dos EUA, Donald Trump, já chegou a chamar Assad de “açougueiro”. Os motivos e os atores que compõem o conflito tornam a realidade da Síria ainda mais dramática, já que a guerra se dá em meio a uma briga de interesses no campo da política internacional.

A Olimpíada Internacional de Matemática aconteceu pela primeira vez em 1959, na Romênia, e desde então é realizada anualmente. O Brasil entrou em 1979 e durante esse tempo acumulou 22 medalhas. No ano passado, alcançou sua melhor colocação: 15º lugar no ranking por equipes – uma evolução desde 2010, quando ocupava a 35ª posição.

Nesta primeira edição realizada no Brasil, as equipes têm de resolver seis problemas. Nos dias em que os testes são corrigidos, os estudantes participam de atividades culturais. Entre os integrantes da equipe brasileira está João César Vargas, 19 anos, um dos quatro brasileiros aceitos em 2017 pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), referência mundial no estudo das ciências exatas. Completam o time Pedro Henrique Sacramento de Oliveira, 18 anos, André Yuji Hisatsuga, 17, Bruno Brasil Meinhart, 16, Davi Cavalcanti Sena, 17, e George Lucas Diniz de Alencar, 18.

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Apesar de ainda ocupar os últimos lugares em rankings de provas internacionais de matemática, o Brasil tem se destacado com nomes isolados, como Artur Ávila, que em 2014 recebeu a Medalha Fields, prêmio conhecido como o Nobel da área. Além disso, em 2018 o País vai sediar o Congresso Internacional de Matemáticos, também no Rio de Janeiro. Nesse caso, não só será a primeira vez do evento no Brasil como também no hemisfério Sul.

Alguns dos maiores pesquisadores do mundo vão se reunir aqui e colocar os centros brasileiros no mapa mundial das pesquisas científicas. Segundo o comitê organizador, encabeçado pelo diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), Marcelo Viana, o encontro será uma oportunidade para refletir sobre o grande progresso da região em pesquisa e divulgação.