Já estamos em abril. Coisa doida como passa o tempo, não?

Até ontem Bolsonaro estava no comando do Executivo, falando bobagens sobre a cloroquina e bravatas sobre sua saúde impecável, enquanto milhares de eleitores, seus e da oposição, pereciam de Covid sem acesso a vacinas.

Não faz muito tempo, também, Lula estava preso sem direito a dar sua opinião nem sobre gol do Corinthians, muito menos sobre a situação do País.

Hoje estão, os dois, em situação oposta.

Lula está livre para falar o que bem entender — e ser ouvido, o que é prerrogativa do presidente. E Jair Bolsonaro, por outro lado, se esconde na penumbra, tentando arquitetar seu futuro.

Tudo passou assim, num segundo, é a sensação que fica.

O tempo passa rápido e, como mágica, apaga o passado.

Faz uns anos, li que telefones têm nove dígitos porque é o número de “pacotes” de informação que conseguimos guardar na memória num dado momento.

Mentira. Eram sete dígitos quando ouvi essa história, mas tive que adaptar para esse texto porque os números de telefone agora têm mais dígitos.

O ponto é que se considerarmos as notícias que constantemente chegam de Brasília, são muito mais do que sete. Ou nove.

Então a gente esquece, é natural.

As joias das mil e uma noites Bolsonaristas daqui a pouco serão esquecidas também.

Sendo assim, relembro: o valor total dos regalos supera os R$ 17 milhões.

Por um colar, anel, Rolex, brincos e uma estatueta de cavalo.

Com o passar das primaveras ocorre a magia: o apagamento de nossa memória

Cavalo, aliás, que teve três de suas patas amputadas, porque estava muquifada na mochila do assessor Bento Albuquerque.

Imagine a carinha dos árabes vendo as fotos do cavalinho perneta, coitados.

Verdade que esses R$ 17 milhões não são páreo para os R$ 26 milhões que a família gastou naqueles 51 imóveis que a gente já esqueceu.

Já para nosso honrado ex-presidente, foi o resultado de uma única viagem na qual imaginou que poderia passar pela alfândega desde que tudo estivesse bem escondidinho.

Só que o ex-presidente não contava com o mais novo herói nacional.

Se você assiste a série “Aeroporto Área Restrita”, sabe que não é fácil passar pela competente equipe da aduana de Guarulhos, do delegado-chefe Mario de Marco.

De Marco é uma das estrelas do programa e foi o responsável por impedir a possível tentativa de contrabando.

Segundo o jovem policial federal, não liberaria o presidente “nem com um fuzil”.

E Bolsonaro, imaginou que teria uma arma muito mais poderosa do que a das milícias do seu Rio de Janeiro: a caneta.

O tempo passa e a gente esquece.

Para engolir cada novo absurdo político, liberamos os que estavam no nosso buffer.

Esquecemos, por exemplo, que Lula foi preso em razão de ter sido presenteado pela construtora OAS com um triplex avaliado em meros R$ 3 milhões.

A prisão aconteceu, evidente, não pelo valor, mas pelas razões que levaram ao presente.

Estranho, no entanto, é que se fala muito sobre as razões para presentear Lula com o tal triplex, mas quase não se fala sobre o porquê de Bolsonaro ter recebido presentes num valor mais de cinco vezes maior do sheik árabe.

Em entrevista à Jovem Pan, o próprio ex-presidente esclareceu:

“… [A Arábia Saudita] têm dinheiro, pô. É o prazer deles dar o presente…tem coisas que nós não temos: três esposas, por exemplo…são riquíssimos e procuram agradar as pessoas…”.

Ô gente boa esses árabes. Adoram agradar.

Agora ficamos todos na expectativa do que a Justiça vai fazer com tudo isso.

Se não fizerem nada, fica a lição para Lula: bastava ter dito que a OAS tem muitos apartamentos e gosta de agradar.

Afinal, um presente de R$ 16 milhões pode ser totalmente desinteressado, já que no mundo tem gente muito rica que gosta de agradar.

A nós, resta apenas aceitar, mesmo porque, já, já, vamos esquecer.