Antes de romper com Bolsonaro na quinta-feira, 5, quando cancelou a reunião que vinha articulando para conter a crise política provocada pelos ataques do mandatário ao sistema eleitoral, o presidente do STF, Luiz Fux, temia que o acirramento do conflito levasse a uma ruptura institucional. Tanto que vinha tentando, desde julho, ser o moderador na guerra aberta pelo ex-capitão contra os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Pediu que o presidente se contivesse, mas ele só fez aumentar o tom das críticas com ofensas e xingamentos. A live sobre as fraudes inexistentes foi a gota d’água. Fux resolveu abandonar a postura de mediador e se posicionar na trincheira ao lado dos dois ministros para frear as ameaças golpistas feitas diuturnamente pelo chefe do Executivo.

Diálogo

Fux concluiu que era impossível dialogar com quem despreza a Constituição. A partir de agora, o Supremo só responderá aos ataques do mandatário por meio de sentenças judiciais que tratem da crise envolvendo o sistema eleitoral ou das investigações criminais que envolvem o presidente, como no caso da prevaricação ou da interferência na PF.

Militares

Isso não significa que Fux não vai mais dialogar para alcançar a harmonia entre os Poderes. Depois da reunião com Aras, o magistrado conversará com ministros de Bolsonaro (Ciro Nogueira) e já ligou para Pacheco e Lira. Deve se reunir também com militares, mas já recebeu sinais de que as Forças Armadas não se envolverão nas aventuras do capitão.

A fé move montanhas

Isac Nobrega

Na busca de votos para ir para o STF, André Mendonça tem participado de jantares com senadores, inclusive do PT. Para atraí-los, o ex-chefe da AGU critica a Lava Jato (vários petistas, como Lula, foram presos na operação) e diz que será grato a Bolsonaro, mas garante que no tribunal será “fiel à Bíblia e à Constituição”. Vários petistas prometem votar no ministro bolsonarista. Depois não vale chorar.

Retrato falado

“Quem pregar que não haverá eleições será apontado como inimigo da Nação” (Crédito:Beto Barata)

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que foi eleito com o apoio de Bolsonaro, procura agora se descolar do mandatário para ter chance de entrar na corrida presidencial. Após o capitão ter voltado a desrespeitar o ministro Barroso, o senador disse que não admitirá retrocessos, advertindo que o Congresso deverá sepultar o voto impresso, contrariando o Messias. Para o senador, mesmo que a Câmara aprovasse a medida em plenário, o voto de papel seria rejeitado no Senado.

Toma lá dá cá

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT (Crédito:Sérgio Lima)

O que acha do presidente dizer que só teremos eleições se for com o voto impresso?
Nossa defesa é pela recontagem dos votos. Isso só é possível com urnas que armazenam o voto individual. Jamais dissemos que há fraude no TSE e o atual presidente foi eleito por esse tipo de urna.

Datena se filiou ao PSL dizendo que pode fazer aliança com o PDT em 2022. Isso é possível?
Se o PSL não estiver com o atual presidente, sim, podemos ter a aliança. Ciro tem bom diálogo com o Datena.

O que o PDT faria em um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Lula?
O PDT nunca apoiou, nem jamais apoiará Bolsonaro, que simboliza tudo que combatemos: a política racista, homofóbica e anticristã. Ainda o verei
na cadeia.

Motosserra afiada

Ricardo Salles caiu, mas deixou a motosserra nas mãos de Joaquim Leite, o novo ministro do Meio Ambiente. O Inpe acaba de divulgar que de agosto de 2020 a julho deste ano os madeireiros derrubaram 8.712 km2 de florestas na Amazônia, equivalentes à área de cinco cidades de São Paulo. Esse desmatamento é o segundo pior da história. O maior foi registrado de agosto de 2019 a julho de 2020, com a devastação de 9.216 km2. Ambos, no governo Bolsonaro, e a maioria, claro, na gestão de Salles. Isso significa que não basta mudar o ministro, porque a política desastrosa para o setor é patrocinada pelo presidente, que não tem compromisso algum com a preservação ambiental.

Pária

É por essa e por outras que Bolsonaro é considerado um pária pelas autoridades internacionais preocupadas com as mudanças climáticas e o aquecimento global. No final do ano, haverá a COP-26, na Escócia, que reunirá todos os presidentes, como Biden e Macron, para a qual o brasileiro nem foi convidado.

A farra das emendas

Bolsonaro é o presidente que mais destinou emendas parlamentares (R$ 41,1 bilhões) para comprar a adesão à base aliada. Com dinheiro saindo pelo ladrão, o senador Márcio Bittar destinou R$ 20 milhões para asfaltar as ruas de Gameleira (GO), muito distante do estado que o elegeu (Acre). O valor representa 13 vezes a arrecadação do município.

Pedro França

É a mamãe

O deputado Domingos Neto (PSD-CE) aproveitou as emendas fartas para fazer uma homenagem à própria progenitora, dona Patrícia Aguiar, que vem a ser prefeita da cidade cearense de Tauá. Ele destinou R$ 110,3 milhões dos cofres públicos para a compra de tratores, mas só parte do dinheiro foi revertida na aquisição do maquinário.

O rei da cloroquina no Senado

Marcos Oliveira

O senador Marcos do Val não se contenta apenas em ser negacionista. Aproveita as emendas parlamentares para destinar R$ 11 milhões para a compra de 2 mil kits de cloroquina e azitromicina para os doentes com Covid no Espírito Santo. Como se sabe, essas substâncias são ineficazes no combate ao coronavírus, e, mesmo assim, ele joga uma pequena fortuna pelo ralo.

Rápidas

* Acostumado à política de compadrio com Trump, Bolsonaro agora é tratado com aspereza por Biden. Em visita ao Planalto, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, deu um pito no brasileiro: os americanos estão preocupados com as ameaças às eleições.

* Dos 645 municípios de São Paulo, 346 não registram novas mortes desde 28 de julho. Só não está melhor porque Bolsonaro boicota o governo Doria, cortando 50% das doses da Pfizer que seriam destinadas ao Estado.

* Lula tem recorrido ao ex-ministro Nelson Jobim (Defesa) para se aproximar dos militares que estão insatisfeitos com sua provável volta ao Planalto. Jobim é diretor de um banco, mas ainda goza de bom trânsito com os fardados.

* A senadora Leila Barros (DF) deixou o PSB e se filiou ao Cidadania. Moral da história: os socialistas ficaram sem nenhum representante no Senado e a bancada do partido de Roberto Freire aumentou para três.