Nas vésperas das eleições italianas, que acontecem no próximo dia 25, um personagem nefasto ressurge das profundezas da história para influenciar o futuro político do país. É Benito Mussolini, que inspira o partido neofascista Irmãos da Itália, presidido por Giorgia Meloni, líder nas pesquisas de intenção de voto. O partido promove a figura do ex-ditador como um estadista que avançou nos direitos trabalhistas e não como um sanguinário que aprovou leis raciais vergonhosas que deflagraram a perseguição aos judeus e a outras minorias. E essa revisão histórica tem dado resultados. Atualmente, a maioria (66%) dos jovens italianos entre 16 e 25 anos relativizam a crueldade de Mussolini e dizem que a ditadura foi condenável, mas também trouxe benefícios.

Em 2022 faz 100 anos que Mussolini chegou ao poder e a efeméride tem intensificado as visitas à cidade de Predappio, onde ele nasceu e foi enterrado na cripta da capela de sua família. O lugar virou um centro de peregrinação ideológica, que atrai adoradores de regimes extremistas. Cerca de 70 mil pessoas devem visitar o túmulo neste ano e adquirir lembranças como suásticas e cruzes celtas, pulseiras anticomunistas ou o Manual do Fascista. Como acontece em outras partes do mundo, há um claro esforço ultradireitista para reabilitação de seus líderes que estimula uma espécie de nostalgia totalitária. E na Itália esse movimento é especialmente forte.

O partido Irmãos da Itália, que promove o ditador, nasceu em 2012, a partir dos escombros do Movimento Social Italiano (Destra Nazionale), integrado por ex-seguidores de Mussolini e dissolvido em 1995. A legenda recuperou o emblema original dos fascistas, a chama tricolor, e promove um discurso ultranacionalista e eurocético. Embora Giorgia Meloni diga que não pretende recuperar o fascismo histórico, sua possível ascensão ao poder causa inquietação em toda a Europa e faz pensar no pior. Desde a Segunda Guerra nunca houve um esforço de reabilitação de Mussolini tão explícito e desavergonhado.