Não é fácil entender como existe gente capaz de acreditar que a Terra é plana. Pelo menos se considerarmos quem nasceu depois da Idade Média.

O fato de vivermos num planeta quase esférico, era uma realidade que, até outro dia, era incontestável.

Mas uma gente muito estranha, de alguns anos para cá, saiu de suas tocas obscurantistas.

Gente que, em 2022, contesta não apenas as infinitas imagens do planeta visto do espaço, mas também fórmulas, descobertas, tecnologias que mudaram o mundo nos últimos quatro ou cinco séculos.

Acreditam numa versão de mundo que contradiz boa parte da realidade que podemos ver, sentir e experimentar.

Uma versão que nega a viabilidade física de satélites, GPS, Estação Espacial, para dar só alguns exemplos.

Em seus devaneios, os terraplanistas acreditam que estamos cercados por uma muralha intransponível de gelo, resguardados por um domo, dentro do qual estão o sol e a lua, girando como numa caixinha de música.

Essa eleição será o confronto entre ignorantes e embasbacados

Quando confrontados com os conceitos científicos mais elementares, desses que uma criança aprende no ensino fundamental, apenas nega.

Não se dão ao trabalho de apresentar contra-argumentos, alegando que aqueles como nós, que acreditamos na Ciência, somos ingênuos, vítimas de conspirações de governos que querem nos controlar.

E não adianta colocar um cientista consagrado para debater com eles. Qualquer um que possa desbancar suas crenças
é apenas mais uma vítima da tal conspiração.

Porque terraplanistas não desafiam apenas os conhecimentos científicos. Desafiam autoridades.

Acontece exatamente o mesmo com os antivacina.

As teorias, as pesquisas, os comprovados resultados, para eles, não passam de mentiras.

Apontam riscos ridículos, desbancados numa simples pesquisa no Google.

Um antivacina não está preocupado em comprovar nada.

Ou aprender com as experiências que incorporamos ao longo do tempo. Como os terraplanistas, sua motivação está relacionada a uma ideia de que estamos todos sendo enganados pela indústria farmacêutica, pelos governos, por poderosos anônimos. Se confrontados com um especialista, um médico, um cientista, não concede aos fatos.

Desafiam as autoridades.

Ignorantes, arrogantes, orgulhosos de sua própria imbecilidade, sempre estiveram soltos por aí. Mas, com as redes sociais, as mesmas ferramentas que disseminam o conhecimento, disseminam a ignorância.

Se no passado esses coitados ficavam restritos a grupos pequenos, com as redes sociais basta um vídeo cheio de mentiras para atrair milhares de idiotas que jamais teriam a oportunidade de se conhecer e agora podem difundir, em grupo, suas teorias absurdas para bolhas de iguais, que os algoritmos das redes colocam à disposição.

É exatamente isso, essa falha na matrix, esse equívoco fundamental na concepção das redes sociais, que mudou também a história política do mundo.

A mesma sensação de incredulidade que qualquer sujeito mediamente informado sente quando escuta alguém defender a idéia de que a Terra é plana, ou insistir que as vacinas são ineficazes, aparece também ao escutar argumentos de políticos que contradizem qualquer lógica ou evidência.

Tornamos-nos, graças às redes sociais, um mundo dividido em dois enormes grupos.

De um lado os ignorantes ou mal intencionados que difundem e acreditam em bobagens indefensáveis e, de outro, os embasbacados, constantemente surpresos com a capacidade do primeiro grupo de acreditar em falácias.

Na prática, terraplanistas e antivacinas são exemplos tangíveis dos seguidores anônimos das mentiras que certos políticos espalham nas redes e que tanta gente engole como verdade. Gente que utiliza diariamente redes sociais para postar absurdos e se contrapor ao óbvio, na Economia, na Saúde, na Educação, na Cultura, no Meio Ambiente.

A eleição que se aproxima não apresentará um confronto entre esquerda e direita, nem será sobre ideologias
ou programas.

Será, na verdade, a chance de confrontar os usuários desse fakebook.

E destronar os que desafiam a autoridade da verdade, do bom senso e da democracia.