A pós o assassinato de uma professora no interior paulista e a tragédia na creche em Blumenau que vitimou quatro crianças, alguns veículos de comunicação tomaram uma atitude inédita. Na cobertura da chacina em Santa Catarina, decidiram não identificar o autor da barbárie.

Segundo esses veículos, a decisão foi tomada com base em estudos que demonstram o efeito contagiante da violência. Já não era a hora! Há décadas especialistas em comportamento humano vêm apontando para os riscos da chamada “espetacularização da violência.”

Quando a mídia reverbera à exaustão imagens de atentados, chacinas e assassinatos ela ajuda a banalizar o mal, anestesiando a sociedade, que já não se sensibiliza com as tragédias do dia a dia. Ao publicizar-se obstinadamente casos extremos de violência, a vítima é transformada em produto da mídia e o agressor, alçado à condição de “celebridade”, o que gera grandes audiências – sempre à custa da miséria alheia. No caso das chacinas, a espetacularização das tragédias cria, inclusive, mártires da maldade.
Seja no submundo ou na superfície da internet, pululam grupos de apoio e até mesmo de idolatria a assassinos em massa. Esses redutos virtuais, geralmente com vieses misógino e racista, são formados por jovens e crianças que refugiam-se em bolhas
de ódio, pois acreditam que a violência é a única saída para conflitos como violência domestica, bullying e sentimentos de inadequação.

De 2002 a 2023, o número de ataques em escolas cresceu assustadoramente, chegando a vinte e duas ocorrências e trinta mortes

Os grupos ganharam força, especialmente nos últimos anos, com o recrudescimento da polarização política, a glamourização das armas e a multiplicação de grupos neonazistas que professam o ódio à minorias. De 2002 a 2023, o número de ataques em escolas no Brasil cresceu assustadoramente, chegando a 22 ocorrências e 30 mortos, de acordo com estudo da Universidade Estadual de Campinas. As vítimas são, em sua maioria, mulheres e meninas. Outro fato que chama a atenção é que mais da metade dos casos aconteceram nos últimos dois anos, coincidindo com o ápice da nova política armamentista do governo Bolsonaro e o aumento dos discursos de ódio e da polarização ideológica.

Não há como apontar uma única razão para o aumento da violência, uma vez que trata-se de fenômeno multifatorial, e que pode envolver tanto a família quanto a escola, o Estado, a mídia, a política… Por isso, as ações contra o extremismo têm que ser plurais e envolver toda a sociedade, inclusive as redes sociais onde se hospedam e interagem os radicais sob o olhar insensível das Big Techs.