“Se dei bons exemplos, siga-os. Se fui bom imitem-me. Se deixei vocês com saudades, quando se lembrarem de mim, façam uma oração.” O trecho do poema “A morte não é nada” do filósofo, escritor, bispo e teólogo Santo Agostinho (354–430) foi entoado durante a missa de 7º dia do fundador e diretor-responsável pela Editora Três, Domingo Alzugaray, na manhã da segunda-feira 31. Na obra, o autor reflete sobre a transcendência da vida. A morte é colocada não como um fim em si, mas como uma passagem para outra dimensão. Na cerimônia, os versos emprestaram seu significado aos momentos da vida do empresário e comunicador e, na voz de Maria Clara Vergueiro, mulher do presidente-executivo da Três, Caco Alzugaray, emocionaram amigos e familiares. Do alto do altar da igreja São José, em São Paulo, ela declamou cada palavra do poema escolhido pelos filhos Caco e Paula Alzugaray para homenagear o pai e resguardar o legado do homem de idéias inovadoras. “Me deem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram”, disse harmonicamente a um grupo de aproximadamente cem pessoas que acompanhavam a celebração.

A cerimônia que reuniu amigos, familiares e profissionais da imprensa seguiu à risca o que pediam os versos de Santo Agostinho. “Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir juntos.” Todos adentravam à igreja com lembranças dos dias de entusiasmo no convívio com Domingo. Jornalistas faziam referências às conversas animadas em torno da grande mesa de madeira, comprada em Embu das Artes (SP) e erguida com um guindaste para poder entrar pela janela da sala de reuniões da Editora Três, destinada a receber desde políticos a personalidades de diversas áreas do conhecimento. Ao redor do móvel eram discutidos os rumos do País.

Nas primeiras fileiras em frente ao altar estavam acomodadas a viúva de Domingo e também editora dona Catia, a filha Paula, jornalista e crítica especialista em arte, além do filho Caco e os netos do fundador da Três. Hoje, a saga pessoal e profissional dos herdeiros de Domingo se confundem também com os versos de Santo Agostinho. “A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi cortado.” Não foi cortado e continua a ser tecido e a embalar grandes histórias e reportagens nas publicações criadas por Alzugaray. Enredos estes reconhecidos por personalidades, políticos e empresários de diferentes setores do País. Presente na celebração, o atual prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), prestou sua última homenagem ao empresário. “Domingo Alzugaray foi um grande empreendedor do jornalismo brasileiro. Construiu revistas, mídias e projetos inovadores em seu campo de atuação”, afirmou. A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) também compareceu à cerimônia para cumprimentar a família. “Foi um excelente profissional e empreendedor para o setor”, disse. A missa ainda contou com a presença do romancista e jornalista brasileiro Ignácio de Loyola Lopes Brandão. Com uma vasta produção literária e larga experiência de vida, ele nutria notável admiração por Domingo. “Ele tinha o coração da altura dele e a ambição e o sonho infinitos de fazer revistas, desafiando o poder de fogo da Abril. Fez muitas. Fiz com ele a Planeta, a Ciência e Vida e a Lui. Belos anos de minha vida”, afirmou.

Representantes do setor empresarial que compartilharam do ato litúrgico com familiares e amigos aproveitaram para enaltecer o empreendedorismo de Domingo, uma das marcas de sua trajetória. “Ele era um empreendedor, otimista, incentivador daquelas pessoas que fazem a diferença”, afirmou Lírio Parisotto, presidente da Videolar Innova. “E deixou um bom time para tocar o negócio”, acrescentou. O presidente da Eldorado Brasil, José Carlos Grubisich, também reconheceu o trabalho de Alzugaray. “O legado de Domingo traduz, de maneira clara, o espírito de empresário corajoso e determinado que ele sempre demonstrou. Ele teve um papel relevante na história da comunicação e da imprensa brasileira nas últimas décadas.”
Ao final da celebração, os presentes puderam cumprimentar a esposa e os filhos numa pequena sala contígua à igreja. Na despedida, um dos versos certamente continuou a povoar os pensamentos de todos os que conviveram com Domingo. “Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem traço de sombra ou tristeza.” Ou seja, com a simplicidade de um incansável sonhador, mas que, ao mesmo tempo, transformou e ficou indelevelmente marcado nas páginas da história.