“Mudamos de endereço e ficou tudo diferente. Vai ser um novo processo de adaptação” Lucas do Nascimento Araujo, funcionário administrativo na Eppendorf (Crédito:Anna Carolina Negri)

O mundo mudou e o normal não é mais o mesmo de antes. No momento em que muitas pessoas começam a voltar ao trabalho presencial depois de um longo tempo de isolamento, há uma mistura de sensações e uma grande curiosidade sobre como as coisas irão se desenvolver a partir de agora. Para gente que teve excelente adaptação ao home office, voltar à antiga rotina pode ser desafiador e até estressante. Outros não viam a hora de retomar a convivência com os colegas e a agitação do ambiente corporativo. De qualquer forma, são inúmeros os casos em que o retorno ao trabalho representa uma nova realidade. Há empresas que mudaram de endereço e outras que alteraram inclusive sua estrutura organizacional.

“Ficou tudo diferente, vai ser um novo processo de adaptação”, afirma Lucas do Nascimento Araujo, 27, que trabalha no setor de administração e financeiro da empresa Eppendorf, uma multinacional fabricante de insumos e equipamentos de laboratório, que fornece, inclusive, para o Instituto Butantan. Sua readaptação começou pela localização da sede administrativa da empresa que ficava na zona Oeste da capital paulistana, na região da Lapa, durante o confinamento. “Era uma casa que foi transformada em sala comercial e, agora, ela fica em um prédio”, conta. Nesse momento, Lucas tem que ir ao trabalho uma vez por semana, às terças-feiras, na Vila Madalena, nova localização da empresa. “Agora vou de Metrô, e o escritório fica a dez minutos da estação”, diz. Apesar de gostar do relacionamento empresarial e das vantagens logísticas do novo endereço de trabalho (antes ele perdia três horas para fazer o percurso de sua casa até a Eppendorf), Lucas sente-se inseguro devido à pandemia. Ele já tomou a primeira dose, mas entende que nem todas as pessoas se cuidam devidamente. O que lhe deixa mais aliviado é o fato de a empresa ter adotado medidas de controle sanitário.

“Meus filhos já estavam cansados de ficar em casa e eu também pude voltar à empresa” Andresa Cristina de Almeida, CEO da Prime Guarantee Investment AS (Crédito: Anna Carolina Negri)

A engenharia civil Thamiris Ferreira, 28, que atua na área de suprimentos da Nortis Incorporadora, detalha como está sendo o processo de readaptação ao modelo presencial. A empresa também adotou a esquema hibrido para os funcionários. “Os espaços dentro da empresa foram modificados, pensando nos cuidados relativos à pandemia”, diz. Com a intenção de minimizar os riscos de disseminação do vírus, a construtora desenvolveu um sistema para garantir o distanciamento. entre os funcionários. As cadeiras usadas por cada um tem que ser reservadas por aplicativo. Nela, há um código QR que o funcionário lê, por meio do smartphone, criando um vínculo. “Se a leitura não for feita, a cadeira vai para outra pessoa”, conta.

PRECAUÇÃO A Incorporadora Nortis adotou o esquema hibrido de trabalho: respeito às medidas sanitárias (Crédito:Anna Carolina Negri)

Os especialistas em comportamento empresarial afirmam que o retorno nesse momento de respiro da pandemia se, mal planejado, pode gerar estresse e ansiedade nas pessoas. José Raucci, psicólogo da Nuovavita Psicologia, afirma que por estarem se expondo a uma situação que não está totalmente dominada, as pessoas tendem a ficar ansiosas e desenvolver outros distúrbios emocionais. Porém, em pesquisa recente da consultoria Thomas Case & Associados mostrou que 76,3% dos trabalhadores preferem o modelo híbrido de trabalho. É o caso de Camila Mastrange, 37, química e matemática, que leciona para alunos do ensino médio, em uma escola privada na Zona Sul de São Paulo.

A docente explica que a causa de sua apreensão está relacionada com a forma mais comum com que os alunos se relacionam com o professor. Na hora de tirar dúvidas, se dirigem à mesa e ficam tête a tête com ela. “A Covid-19 levou um aluno meu, isso causa insegurança”, diz. Camila trabalha em diversas escolas e esclarece que apesar da instituição de ensino ter colocado em prática todas as medidas protetivas, acima das outras escolas em que atua, parece que os alunos ainda não compreenderam a necessidade de se manter distância do professor. Ela já tomou a primeira dose da vacina da Pfzer, mas, com certeza, preferiria continuar lecionando remotamente. “Ainda estou em confinamento, só saio de casa uma vez por semana e, mesmo assim, fico preocupada”. O retorno à vida normal também pode representar um alívio. Foi isso que aconteceu com Andresa de Almeida, CEO da Prime Guarantee Investment AS, e mãe de João Guilherme, de 13, e Ana Laura, de 9 anos. Há um mês, as crianças retornaram para as aulas presenciais. “Eles já estavam cansados de ficar em casa e eu finalmente também pude voltar à empresa”, desabafa.