Só tem uma explicação para Jair Bolsonaro fazer corpo mole em admitir a cruel invasão da Ucrânia, poupar o russo Vladimir Putin de qualquer crítica e ainda desautorizar o vice-presidente Hamilton Mourão por falar em seu lugar e condenar os atos de guerra na província de Donbass e a iniciativa de ocupação territorial que está em andamento. Além de implorar pelo aumento da oferta de fertilizantes, produtos importados de vital importância para garantir a fartura da agricultura brasileira, ele deve ter negociado com Putin também algum esquema de espionagem e ataque cibernético nas próximas eleições no Brasil. A Rússia é especialista em interferir em sufrágios alheios, como se sabe do caso de Donald Trump nos Estados Unidos, e tem capacidade digital de sobra para perturbar seriamente qualquer processo democrático e fazer estragos consideráveis à distância em sistemas estruturantes de governos e instituições. É tudo que Bolsonaro quer.

Além do seu filho 02, o vereador Carlos (Republicanos-RJ), que não tem cargo na Presidência e deveria estar trabalhando na Câmara de sua cidade, estava presente também na turnê pela Rússia outro membro do gabinete do ódio, o assessor Tercio Arnaud, um dos estrategistas digitais do governo que já está totalmente dedicado aos artifícios da campanha eleitoral. Na terça-feira, 18, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou uma representação ao ministro do STF Alexandre de Moraes, pedindo uma investigação da participação dos dois na viagem. Claro que eles estavam lá para aprender mais soluções para propagar fake news e se informar sobre os pacotes de derrubada de sistemas para aplicar o aprendizado no Brasil nos próximos meses. Bolsonaro precisava de bons motivos para viajar numa hora completamente inapropriada a um país à beira de deflagrar um conflito armado.

Certamente saiu dessa viagem para o Leste Europeu um pacto entre líderes autoritários para se ajudarem mutuamente. Não incluindo só Putin, mas também o ultradireitista Viktor Orbán, para quem Bolsonaro fez uma visitinha na Hungria. Há um mercado de sabotagens e terrorismo digital da direita à esquerda correndo solto pelo mundo e o Leste Europeu é um grande fornecedor de serviços. Está na cara que Bolsonaro vai ficar em cima do muro sobre a Guerra da Ucrânia porque combinou com o parceiro russo um esquema arrasador para as próximas eleições e não quer decepcioná-lo. Seu filho conheceu tecnologias eficazes e surpreendentes. Uma mão lava a outra. Quer rir tem que fazer rir. Dá quase para apostar que o presidente não vai dar um pio que pareça ofensivo contra Putin. Carlos e Arnaud devem ter trazido coisas preciosas da Rússia.