Em 2018, a política brasileira irá se deparar com uma situação inédita desde a redemocratização. Será a primeira eleição sem o fator responsável por reger nossas transformações em mais de 30 anos: a expectativa do poder pessoal de Lula. O ex-presidente petista, à beira de uma condenação pela Lava Jato e cuja cartilha foi reprovada pelas urnas no pleito municipal, não apenas não será candidato à Presidência como lhe faltará musculatura política para influir na eleição. Esse cenário somado à volatilidade do momento, refém da agenda de Curitiba, e à desilusão com a política tradicional desautoriza prognósticos mais assertivos para 2018. Prevê-lo agora é como tatear no escuro.

Nossa cultura política reconhece duas tradições ideológicas dominantes desde 1822: o nacional-estatismo e o cosmopolitismo liberal – dicotomia estabelecida de maneira mais nítida quando se consolidou no Império a oposição entre saquaremas e luzias. Atualmente, a maioria da população não consegue distingui-las com precisão, o que torna tudo ainda mais imponderável. Talvez o eleitor prefira alguém capaz de encarnar a conjunção de ambos ou até mesmo não queira nem um nem outro. Afinal, fazendo jus a uma expressão cunhada pelo pernambucano Holanda Cavalcanti ao se referir ao espírito camaleônico dos integrantes das duas agremiações, “nada mais parecido com um Saquarema do que um Luzia no poder”. Da raiz desse raciocínio, baseado na tese de que “todos são iguais”, brota o fenômeno do “não-político”.

Claro, a estupenda mudança na realidade eleitoral deriva sobretudo da decepção com Lula e o PT. Como consequência da corrupção institucionalizada e do populismo econômico irresponsável, o Estado brasileiro foi parar na UTI. Para o público, tudo associado ao Estado parece suspeito ou arbitrário. Por isso, o clássico “Odeio”, celebrizado na voz de Caetano, é entoado para todos sem distinções. Resta saber quem vai emergir dos escombros da velha política. Se muitos concordam que existe hoje terreno fértil para o surgimento de um outsider, poucos ousam dizer quem poderá assumir esse papel em 2018. Mal sabem de onde ele virá. Como se comportarão os órfãos do lulopetismo e ao lado de quem caminhará a nova direita são perguntas fundamentais ainda sem resposta. Ao menos um vaticínio é possível arriscar. O aspirante à Presidência terá de inevitavelmente compreender o Zeitgeist, expressão alemã usada para designar o “espírito do tempo”.

Nada mais parecido com um Saquarema do que um Luzia
no poder. Da raiz desse raciocínio brota o não-político


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