Os tabloides londrinos sempre se alimentaram de escândalos e intrigas criados dentro da política, devidamente acrescidos de ingredientes torpes e propagados com rigorosa crueldade. É uma fórmula infalível. Mesmo conhecendo todo o enredo, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, 56, não foi capaz de prever os prejuízos causados a sua imagem por conta de uma reforma em seu apartamento em Downing Street. O custo da mudança na residência oficial foi de R$ 1,3 milhão. O pano de fundo da polêmica, dizem seus apoiadores, é uma rejeição à noiva do ministro, a ativista Carrie Symonds, 33 anos. Carrie é a primeira companheira solteira de um premiê a se mudar para a residência oficial e virou o alvo preferencial das críticas à renovação promovida pelo casal.

DUVIDOSO O gosto da reforma foi um ingrediente que potencializou o escândalo nos jornais britIanicos (Crédito:Divulgação)

As acusações contra a obra abrangem desde o cidadão comum até importantes figuras da política do Reino Unido. Também inclui uma ampla desaprovação ao gosto estético de Carrie, além de uma suspeita de corrupção na origem do dinheiro gasto. A Justiça britânica investiga se a verba vem de doações feitas ao Partido Conservador, conforme denúncia de Dominic Cummings, que era um dos mais importantes assessores do primeiro-ministro. “Disse a ele que achava que seus planos de fazer com que os doadores pagassem secretamente pela reforma era antiético”, acusa Cummings, que é um dos arquitetos do Brexit. Johnson rebateu, afirmando que reembolsou o investimento. Mas o argumento não foi suficiente para evitar o inquérito aberto pela Comissão Eleitoral da Grã-Bretanha. A intriga cresce por essa iniciativa do ex-assessor. Ele havia saído repentinamente do governo em novembro e, embora não se saiba o motivo concreto, nunca fez questão de esconder as divergências com Carrie.

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Inferno astral

Há boatos de que Carrie criticava a decoração do apartamento como “um pesadelo de móveis” da loja de departamentos John Lewis. As inovações com papéis de parede em excesso e móveis de design de gosto duvidoso se tornaram outro ponto para ampliar a crise. Carrie também será investigada, já que há provas de que ela participou do projeto.

Desde que assumiu, a vida de Johnson tem sido um inferno. Ele demorou para tomar medidas de combate à pandemia, foi acometido pela Covid e é acusado de ter dito que preferia “ver corpos empilhados” a ter que promover um lockdown. A frase, de gosto ainda mais duvidoso do que a reforma do apartamento, chocou os britânicos, apesar de Johnson negar a autoria. O tabloide “Daily Mail” faturou também com esse deslize, sustentando que a bobagem foi dita em uma reunião no fim de outubro.