Favorito em todos os cenários sobre sucessão presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiantou a um grupo de jornalistas, na quarta-feira 20, o esboço do que poderá vir a ser seu terceiro mandato, caso os atuais obstáculos judiciais sejam superados. Ao contrário dos que o apontam como um “radical de esquerda”, Lula continua a ser o velho “Lulinha paz e amor”. Isso não significa, no entanto, que ele pretenda apenas repetir o que fez nos seus oito anos de governo. “Aquele gol eu já marquei. Quero fazer outro, mais bonito”, disse ele.

Pelo que vem sendo esboçado pelo ex-prefeito Fernando Haddad, que coordena seu programa de governo, o “Lula 3” estará à esquerda do Lula em suas versões 1.0 e 2.0. O ex-presidente tem dito que já não basta distribuir renda — é hora de também distribuir a riqueza. Uma das ideias, para isentar de Imposto de Renda os que ganham até R$ 5 mil, é taxar heranças e lucros e dividendos das empresas. Cobrar do andar de cima, para aliviar e reconquistar a classe média — segmento que o PT perdeu nos últimos anos.

Lula também defendeu o “referendo revogatório” para que decisões tomadas pelo governo Temer sejam revistas. Uma de suas preocupações centrais é o chamado trabalho intermitente, que, na prática, já permite que trabalhadores eventuais ganhem menos do que o salário mínimo no Brasil. O ex-presidente também pretende rever a entrega do pré-sal a empresas internacionais, mas não por meio de uma canetada. Sua campanha quer despertar a população para a eleição de deputados e senadores alinhados com seu programa, para que as mudanças tenham não apenas apoio popular, mas, também, do parlamento.

Ou seja: o Lula que começa a nascer nessa pré-campanha presidencial pretende testar a democracia direta, mas também revela profundo respeito pela democracia representativa. O ex-presidente também lembra que não precisa escrever um novo documento direcionado ao mercado financeiro, como foi sua Carta ao Povo Brasileiro. Basta recordar que, quando ele assumiu o cargo, o Ibovespa, da B3, estava em 11 mil pontos e foi a 72 mil pontos quando ele deixou a Presidência. “Minha carta será direcionada ao povo brasileiro”.

Nela, Lula pretende lembrar os brasileiros dos “bons tempos”, em que todos — independentemente da classe social — tinham oportunidades e progrediam. O eixo de sua campanha também trará mensagens de esperança, contra o ambiente de ódio político que foi instalado no Brasil. Lula afirma que será capaz de pacificar o País. “Vai acabar essa história de um petista e um tucano não poderem mais entrar no mesmo elevador”, afirma. Como a mensagem de Lula ecoa bem num Brasil já cansado de tanta destruição institucional e econômica, não surpreende que sua rejeição seja a menor entre os candidatos e que ele seja o franco favorito de uma eleição plena — ou seja, sem tapetão judicial.

Ele continua o mesmo “Lulinha paz e amor”, mas parece disposto
a ousar e promover uma maior distribuição da riqueza no País